segunda-feira, 19 de maio de 2025

Canseira da vida

 Ennui - esse é um curioso termo francês que descobri enquanto assistia à Gilmore Girls. Nesse episódio específico, um personagem meio esnobe está mais do que simplesmente entediado no trabalho. Ele está sofisticadamente entediado, metafisicamente entediado: ele afirma estar ennui

Dizer que se está "bored" não é tão profundo quanto estar ennui. Primeiro, porque ennui é francês - e qualquer coisa dita em francês é mil vezes mais complexa e duas mil vezes elegante do que em qualquer outra língua. Depois, a palavra carrega esse tom dramático francês de quem se sabe condenado a existir. 

Quando alguém está ennui, o mínimo é que acenda um cigarro, coma croissant e discuta dilemas existenciais numa mesa repleta de doutores, fazendo biquinho. Je suis désolé. É como um perfeito enquadramento de Godard. Albert Camus deve ter começado a escrever numa oportunidade dessas.

Cá com meus botões, houve muita ocasião em que senti esse desejo gigantesco de acender um cigarro e responder com "oui, oui, mounsieur": brigas políticas, polarismo, extremismos, problemas familiares, expectativas alheias, essa pobreza desgraçada, essa inflação... Agora sei o que sentia: ennui. Mas um ennui à brasileira, sabe?

Ennui em português pode ser traduzido para fastio, tédio, enfado, mas prefiro "canseira da vida". Na canseira da vida, a gente acende um cigarro de palha, come é croquete, e ainda por cima, ri. Se o Camus não estivesse ennui, mas com canseira, fosse ele brasileiro, talvez não teria escrito nada. Seria como todo brasileiro que não elabora, mas antes sente.

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