É mais difícil dizer "eu te amo" que "i love you".
A primeira dificuldade está na pronúncia. No eu te amo, a boca precisa abrir, fechar sem tocar os lábios, depois abrir de novo — mas não muito — para deixar os dentes se encontrarem. Em seguida, abrir outra vez, fechar no "m" e abrir. Parece um beijo! E daqueles bem enrolados.
No i love you a boca abre uma vez só e termina num biquinho: Iloveyou. Fala-se tudo junto. Dá para dizer iloveyou saindo apressado, olhando o relógio. Pode até ser um agradecimento ao garçom que trouxe aquele steak no ponto. Além disso, confessar-se em inglês é bem mais prático: é só dizer iloveyou que ainda sobra fôlego para fugir da rejeição.
O te amo, ao contrário, tem sua liturgia. É preciso parar, olhar e articular sílaba por sílaba: eu - te - amo. É dito cuidadosamente, pausadamente. Senão o ouvinte entende “tamo”, e pairam no ar muitas interrogações. Não dá para declarar tudo isso e ainda correr sem respirar.
I love you é de uma língua em que a intensidade da fala e o contexto modulam seu significado. Diz-se a sério, na brincadeira, ou mesmo pelo hábito. Dá até para escorregar na casca de banana e soltar "iloveyou". Já o eu te amo, não.
O português é assim: sério ou cômico demais, sem meio-termo. O eu te amo pertence à categoria do sério de verdade. Exige da boca, do tempo e fôlego.
Seja numa jura, seja numa trapaça, não se fala de amor impunemente.
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