quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Disorder

 Estou ouvindo 'Disorder' do Joy Division. Esse tipo de som, que sei lá o que é, me dá a mesma sensação de ver uma foto antiga. Bem antiga. Tirada com uma daquelas máquinas fotográficas de impressão instantânea. Me dá aquela sensação de ver os rabiscos adolescentes, feitos num tempo em que eu não existia.

 Mas mais que isso, é o som da minha própria juventude. É aquele ruído de colocar a minha jaqueta velha de couro, calças rasgadas, botas, do lápis de olho pintando meu olho de preto, do batom deslizando numa boca vermelha, do meu cabelo ruivo raspado fugindo de casa, pulando a janela, levando R$ 10 nos bolsos e um isqueiro. É o ritmo do meu caminhar até um beco escuro para encontrar os amigos. O carro furtado do pai por um dos caras, cheio de adolescentes, é a minha mão para fora sentindo o vento fresco da noite enquanto alguém me pergunta se alguém tem fogo. "Tenho".

 Disorder são as batidas de coturnos em poças d'água. De cigarros úmidos e cerveja em temperatura ambiente. É o que se escuta ao soltar pipa enquanto se fuma o baseado. Tem jeito de juventude selvagem, dirigindo pela cidade morta de interior, dançando em bares escuros e duvidosos. Tem jeito daquelas risadas mudas que ouvimos quando puxamos uma cena engraçada lá da memória. Acho que é esse som que a gente sente quando toca pela primeira vez em alguém que gostamos. É a sensação do all star, camisa preta, do primeiro sexo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E aí, o que achou?