Ultimamente... nem tão ultimamente assim, mas nos últimos anos tenho fugido do meu mundo interior e me aprisionado no mundo material, adulto, ocidental, produtivo e corporativo.
Dizia o Freud que toda fuga é uma prisão, e nisso ele acertou. A minha prisão é me enfiar em todo tipo de atividade física, tátil, concreta, que silencie minha mente dos meus devaneios anti produtivos. Há dias que não converso com ninguém para focar nessa ou naquela meta importante. Sou muito de me manter ocupada por não gostar da ociosidade, por fobia do tédio, por angústia de sentir... costumo até ter dois empregos por vez. No entanto, agora estou com um só. E com esse tempo livre, percebo as grades que construí em torno do meu coração.
Acho esquisito escrever 'coração'. Mas esse é o símbolo internacional do sentimentalismo, e é ali por entre as costelas que tem algumas coisas metaforicamente importantes para a existência.
Está muito difícil ter acesso a mim mesma, como se vê. É desafiador falar dos meus sentimentos em primeira pessoa. Essa frase ali foi uma cesárea. Não é como se já tivesse sido lá muito fácil, mas agora é como se eu estivesse ainda mais distante e com a alma ainda mais enrijecida. Tenho essa mesma sensação da escrita com os desenhos e com a dança. Vou perdendo a prática, me distraindo, e quando retorno, as palavras são duras, os traços menos arredondados e o corpo demora a responder à canção.
Diz-se no filme Stalker do Andrei Tarkovski que a dureza e a força são atributos da morte, mas a flexibilidade e a fraqueza são a brisa do ser. Isso porque, na natureza, homens e plantas, quando nascem são maleáveis, e vão se enrijecendo com os anos. E estou compreendendo o tanto que me enrijeci: por muito tempo existo e não vivo. Desde criança eu nunca quis me esquecer de mim mesma, de ser frágil, brincalhona e criativa... Esse blog aqui, que preciso confessar, muitas vezes penso em deletar por completo, me faz de algum modo cumprir com esse ideal que eu tinha na infância.
Esse blog brega, mal atualizado, de cores esquisitas e desorganizado é minha tentativa de ser tenra e maleável. Mas para escrever, sempre preciso passar por esse processo de ir me desenferrujando. Escrever aqui é como meditar, e é meditando que notei tudo isso.
Ontem, desenferrujei o corpo dançando no meu quarto, brinquei comigo mesma como na infância. Pintei meu rosto para ninguém além da Janis Joplin. Troquei diversas vezes de roupa como se estivesse num show do Fleetwood Mac. Meu desodorante foi meu microfone. Se houvesse um deus bondoso, ele com certeza criou o Rock! Dancei e dancei até os pés ficarem com bolhas. Rebel Yell!, Cum on Feel The Noize, Dream On.
Há tantas coisas que sei que estão no meu coração e que guiam minhas decisões no secreto do inconsciente! E por mais que eu escreva, é como se tudo não passasse de um aquecimento infinito. Queria que fosse mais fácil, assim como é dançar.
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