O intelectual é aquele ali: o otimista adulto demais para ser otimista, o que está encoberto de uma atmosfera lúgubre e vive em seu refúgio natural: o cérebro. O intelectual é distinto, sua intelectualidade não se confunde, é o sarcasmo, é não rir além dos dentes, é estar constantemente insatisfeito com o que é bom. Ele já nasce com a maldição de ver tudo o que não se conquistou, o que se deixou de fazer, os buracos da trama e o futuro brilhante apagado pelo imutável passado.
Trata-se de condição de sua espécie compreender que só se é verdadeiramente intelectual aquele que é triste. É assim que se reconhece como parte do grupo. Essa tristeza sem lágrimas é tida como a marca do verdadeiro amadurecimento. Observe que a infância é o deslumbre, a esperança e o sorriso de um córtex pré-frontal não completamente formado. Logo que há o reconhecimento das incoerências do mundo, nasce-lhe a raiva, por conclusão lógica. A melancolia é consequência direta do apaziguamento da revolta juvenil. É com a tristeza, talvez um par de óculos e uma pele pálida que se o reconhece.
O intelectual, por rotina, se senta em sua mesa de estudos, injuria o mundo, maltrata a esperança e desumaniza a felicidade. Ele digita que tudo está fora de controle e que o azar é uma construção há tantos anos que se perdeu de seus rastros. Em sua conclusão: desista, e referencia a si mesmo. Ele sabe tudo que se há para saber, mas não é o que responde quando lhe perguntam.
O cruel mundo gira, o sol que explodirá acorda pela manhã em contagem regressiva, o leite da geladeira coalhou, e lá vai o intelectual forçado ao mundo, buscar o café da manhã. No trajeto à padaria, vê quem sorri com ironia, pensa-se seguro, acima daquela ignorância toda. Caminha pomposo por entre as gentes, tem dó dos empobrecidos tristes - seu objeto de estudo para mais tarde. O intelectual não se sente muito a vontade em conversar com o objeto de estudo, no entanto, arranja o seu jeito: fala em tom de condescendência, e isto, sim, funciona muito bem. Retorna o intelectual com o leite e um olhar orgulhoso para seu refúgio.
O refúgio do intelectual é bastante distinto, tido que lhe abriga com uma segurança mui peculiar: apaga-lhe o sorriso e a felicidade, sintomas da indesejável imaturidade. No refúgio, só os maduros! No refúgio ele percebe que não disse ao moribundo, olhando nos olhos, sobre seu destino fatal, sente-se covarde por um momento, mas como escreverá sobre, com nota de rodapé, sentiu-se bem logo em seguida. O intelectual é o herói que preserva a verdade das mentes pequenas e as expande em times new roman 12, em Qualis A1. O que importa não é o pouco, é o muito, é a larga escala, é o grande esquema das coisas.
Eis o que é verdadeiramente grande: é a justiça, pensa ao encostar a cabeça no travesseiro, é importante apesar de não ter logrado a conceituar muito bem naquela introdução. Remói por hábito, mas agora lhe chama atenção a estranheza de sua guerra em prol da justiça num mundo tão condenado.
Não há nada o que se dizer de original, sonolência, as mãos atadas a referências, o leite coalha, Comic Sans... Dorme o intelectual.
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