sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O formigueiro

 Eu tenho apenas esse defeitinho que não me deixa em paz: problemas em conviver com pessoas muito corretas - que nunca erram ou que o que fazem, pensam ou a forma como vivem é considerada correta de alguma forma pela sociedade.
 Talvez seja essa a razão do meu círculo de amigos ter diminuído tanto nos últimos anos. Afinal, uma boa parte do corpo social ao qual estou inserida é composta por gente com esse comportamento engomadinho.
 Sabe, não é que eu odeie essa galera nem nada, é só que eu me divirto com essas caricaturas de humanos. Esses seres andando de forma civilizada, se comportando como se fossem parte de algo importante. É como ver um documentário sobre um pequeno formigueiro: pessoinhas fazendo seu trabalhinho no escritórinho, ouvindo suas musiquinhas que falam sobre o amor ou cerveja, tirando suas fotinhos pro instagram, usando suas roupinhas e compartilhando mensagens de auto-ajuda em suas redes sociais, torcendo por curtidas e atenção que só Erich Fromm (pra variar) explica.
 O que eu quero, quando vejo esse tipo de gente, é pervertê-las. É deixá-las constrangidas. É plantar o caos, nem que seja um pouquinho. Gosto de vê-las saírem dos próprios eixos. ''Oh, céus, o meu umbigo não é o centro da galáxia! Existem outras pessoas além de mim e minha opinião não é uma certeza absoluta pro universo!!''. Quando a conversa rende, por milagre, é como se eu ouvisse todas as coisas que a tornaram o que são hoje racharem um tiquinho.
 Será que é arrogância da minha parte? Não é como se eu me sentisse superior e aparte desse tipo de comportamento. Ademais, me sinto um tanto esquizoide perto delas e acabo divagando quando percebo que estão com medo de entrar num assunto que não envolva o clima ou a vida de um terceiro que, na imensa maioria das vezes, nem sequer está lá para se defender.
 Não estou com vontade de me colocar num pedestal nem nada, falo mal das pessoas e converso sobre o clima, mas canso de ficar só nisso: fulano foi traído, o clima está uma loucura. Preciso de gente que reclame e que veja defeito no status quo e que não tenha medo de entrar num assunto polêmico ou desconhecido.
  A vida anda meio parada, não é não?

*Texto escrito em abril de 2015

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