terça-feira, 24 de novembro de 2015

A terra prometida

 Existem esses momentos-chave na vida, que você sabe que vão mudar algo que antes era intocado;
esse incômodo novo e nunca antes pensado te faz refletir se aquilo esteve sempre ali. Algo ruim te consome, depois tudo vai ficando mais claro. De uma hora para outra o quebra-cabeças se encaixa, a ficha cai, as coisas que antes eram verdadeiras já deixam de fazer sentido, e então a negação acontece. É difícil aceitar que um detalhe mude toda a sua base, tudo o que você é, tudo o que você achou que seria; nesse momento há duas escolhas: aceitar a negação ou abraçar a verdade- e isso não é definitivo, as opções sempre aparecerão, mas essa decisão inspirará todas as seguintes.
 Aceitar a aventura que é mudar de perspectiva é complicado. Todo mundo, no fundo, acha que a verdade é dura e fria, mas pouca gente sabe o quanto é legal se libertar da mentira. Apreciar os dias com outros olhos é uma sensação que nunca fica monótona: curiosidade, perplexidade, espanto, alegria, tristeza e compreensão fazem parte desse novo menu.
 A minha experiência me dizia algo, mas toda a sociedade dizia o contrário então, eu, condicionada a ceder a maioria, me reprimia de perguntar e de me deixar experimentar várias coisas- desde aceitar um docinho de uma pessoa de determinada religião a refletir mais criticamente sobre a religião em que fui criada- e tudo isso por causa do medo de cometer o pecado.
 Os pecados, na minha religião e sociedade, são abstratos e mutáveis, incrivelmente difíceis de seguir com disciplina; nem os mais extremistas e fanáticos conseguem se manter de pé nessa ponte tão estreita que é a vida pura e idealizada do cristianismo protestante. 
 Livrar-me dos dogmas foi assustador, rendeu uma boa crise existencial, mas foi muito positivo- agora eu posso curtir mais os momentos, não preciso ter medo de ter uma ideia original, uma crítica ou de aceitar fatos científicos. Estou mais humana e mais calma, não exijo mais tanto dos outros, talvez eu possa até chamar isso de felicidade, mesmo que ninguém me leve muito a sério.

 

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