sábado, 11 de janeiro de 2025

Produção de texto

 Estive olhando para a minha lata de lixo e refletindo... Os estudiosos do português por aí dizem que a reescrita é a parte fundamental na produção de um texto. E de fato é. Mas perceba que o poema, a crônica, enfim, todos os tipos textuais são formas de mascaramento do que realmente sentimos. Isso porque cada texto possui uma estética que nos aprisiona a um dado estilo. A arte da revisão trata-se, na verdade, da confecção de uma bela mentira.

 Na reescrita, rearranjamos aqui e ali a ideia, adequamos as palavras aos conceitos mais precisos. Temos que arrumar as incoerências para não soarmos cafonas e o reformamos para o agrado popular. O trabalho dura horas! Não existe a palavra adequada àquela sensação? Trocamos por outra que faça sentido gramatical e acabamos por realocar a frase inteira! No final, sequer sabemos o que antes estava escrito.

 A reescrita é uma prisão social, não é o texto refeito para si mesmo, para o autoentendimento, mas para o entendimento dos outros. E nessa tradução se perde muito do conteúdo original, essencial, cru, autêntico! Por exemplo, os porquês. São tantos! Na minha opinião, o porquê mais bonito é o "porquê" - eu particularmente usaria ele e apenas ele em tudo, mas como devo me fazer entender, vou lá no Google para ter certeza se é o por que, porque, porquê ou por quê. 

Ah, esse processo todo trava o raciocínio de uma metáfora! Estava indo tão bem a produção textual, até que tive que buscar se é "viagem" ou "viajem", e até compreender tudo e relembrar o que é substantivo, já nem se precisava mais mencionar o assunto no argumento. Transformei a frase num texto que foge totalmente do meu sentir e vira uma crônica. Se não fossem tantas regras, meu amor, já teria um livro cento e dez porcento honesto!

 Verdadeiro, de verdade, é o que consta do nosso diário pessoal e secreto. Ou melhor, naquele rascunho do rascunho do texto. É autêntico aquele primeiro pensamento solto, jogado na folha de papel, com erro ortográfico, incoerente, que num primeiro momento de alienação social pensamos se tratar de uma porcaria, quando na verdade reflete tudo de mais sincero. E é bela! É bela a frase intocada pelas grades da estética! Ali que está a sinceridade que tanto procuramos: na folha de papel amassada e jogada na lata de lixo. 

Vamos à comprovação!

Vou até o lixo buscar a mim!

Abro o papel:

"T amar é 1 viagem de sentimentos mas porquê meu coração nã pára em uma estação?"

Amasso novamente. Agora passo no triturador.

Deus salve a estética!

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