quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Terminantemente

  Quando tudo está tão calmo e, repentinamente, algo te faz olhar aquela caixa de discos velhos, um cheiro antigo e conhecido se espalha no ar ou os olhos se lançam preguiçosos a uma fotografia recordada, nasce e morre, em um segundo, o estranho sentimento de que as coisas que acabaram, acabaram definitivamente, sem se ter como voltar atrás ou ir adiante. O cérebro remonta uma imagem que já se apagou no tempo e no coração, não existindo sequer saudade.

   A tristeza deu lugar à uma indiferença. Aquele tornado de sentimentos se finda e somente uma memória longínqua das lágrimas e dos sorrisos se fixa em um canto qualquer da mente. E rememorar a despedida dez vezes ao dia, como antes, é insistir em ouvir a um disco arranhado: irritante, e por isso desligou-se o som, quase que inconscientemente. Naturalmente, inunda-se o peito de um calmo silêncio. Foi-se a tanto tempo e tão terminantemente que as palavras da lápide, em meio a tantas outras lápides, de fato, se apagaram.

   É isso, e ponto final.

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