terça-feira, 2 de junho de 2020

Felicidade

 Consegue ouvir o tilintar das taças? As vozes distantes? A próxima gota e já chega, a próxima noite e já chega, a próxima década nunca chega! Evito a solidão ao preenchê-la com meus semelhantes. Quais seus nomes? Já não me importo. Basta-me um só gole para destravar a mandíbula e sorrir. É uma alegria líquida, entorpecedora, instantânea, que inunda a realidade fria. E então cai a noite, que logo é tomada pelo sol, e depois pela noite novamente. Olho para a mesa suja, já vazia, turva, e em agonia desejo que se exorcize da minha alma esses viciosos devaneios, que tanto consumiram meu coração. Encho os copos vazios, esvazio os copos cheios, me prendendo deliciosamente nesse triste e incansável ciclo. 

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