quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Aversão

   Mais uma vez o sentimento de inadequação preencheu meu cérebro e travou minha personalidade. por completo. Um bug no sistema. Sentir-se inadequado não é simples, e é algo que sempre atrapalha minha diversão.

 Me flagro sorrindo e, de repente, percebo que estou sendo aberta demais. Nessa hora, a vontade é de pedir desculpas para sei lá qual pobre ouvido está me ouvindo tagarelar e então esconder meu rosto no algodão do meu travesseiro. Bem fundo. Quase sentindo o colchão do outro lado.

 Quando gosto de alguma situação ou de alguém, fico verdadeira em excesso. Eu sou "eu" demais, entende? Muito mesmo! Em nenhuma situação real, em que fui muito eu mesma, da forma intensa que sei que sou, consegui conquistar o que visava. Se meu eu fosse interessante ou minimamente eloquente, o fato dele aparecer assim não me incomodaria nenhum pouco... 

 Mas esse meu eu é estranho, faz conexões que só fazem sentido dentro de mim. Muda de assunto sem avisar, embaralha as palavras, é exacerbado. É um eu cheio de sentimentos, que quer se aprofundar com pouco ou nenhum conhecimento, que quer saber demais sobre você, que quer atenção quando ela não deve ser dada. Um eu que quer apresentar os gostos e desgostos, que são inversamente desgostados e gostados pelos outros. 

 Sou alguém que faz coisas erradas demais, e poucas boas o suficiente para superarem o que é ruim. Não sei se mencionei isso, mas esse eu é alguém egoísta, e com um ego de escala infinita!

 É por isso que guardo quem sou, com a pouca força que possuo. Tenho piedade das pessoas, mas não o suficiente para me calar com mais frequência. É inadequado em todos os sentidos ser quem sou. 

 Desculpe-me, estou trabalhando para me reprimir.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Ideia fixa

Me sinto repetitiva. Obcecada. Não consigo dormir e não consigo me manter completamente acordada. Ando sonhando e me deito acordada. Acho que preciso escrever algo que eu não sei o que é, e que também não sei por onde começa. Então fico digitando o tempo todo, esperando a inspiração descer e ungir a minha mente. É algo grande, tenho alguma certeza disso. E está bem amarrado em mim. Diria até que está me reprimindo. Talvez seja brega, talvez seja épico, mas é algo... Mas que algo? O que eu preciso tanto dizer, que não sai de mim?

É amor, culpa, raiva, tensão? Será fictício ou real? Eu realmente não sei. 

Mas parece urgente. 


quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Infância e literatura

 Meu primeiro contato com a literatura, aconteceu na estante da casa da minha avó, em alguma madrugada da minha infância, em que perdi o sono, nos dias em que pernoitava na casa dela. Comecei a ler por curiosidade de saber o que aquelas capas divertidas escondiam dentro de si.

 Um dos primeiros livros que li, depois de devorar boa parte da "Série Vaga-Lume", foi de uma coletânea chamada "Para gostar de ler - Poesias, Volume 6". Ali eu conheci a Cecília Meireles, Mário Quintana, Vinícios de Moraes e Henrique Lisboa, e acho que esses nomes foram uma introdução magnífica ao mundo das poesias e poemas.


poesia é a “Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados”, enquanto poema é “Obra em verso ou não em que há poesia” *



 Acho que é por isso que os poemas e poesias me são tão especiais, eles me lembram de uma época boa, me ensinaram o sentir a vida de uma forma bastante artística, além de tudo isso, me deram uma boa ajuda no ENEM, uma década depois.



 Aqui vai a seleção de alguns dos meus poemas favoritos, atualmente:

O último poema do último príncipe

Era capaz de atravessar a cidade em bicicleta só para te ver dançar.

E isso
diz muito sobre minha caixa torácica

- Matilde Campilho

Tiranias

antigamente
diziam: cuidado,
as paredes têm ouvidos

então
falávamos baixo
nos policiávamos

hoje
as coisas mudaram
os ouvidos têm paredes

de nada
adianta
gritar

 - Rui Proença


Dualismo

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

- Olavo Bilac (1919)

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Ansiedade

  Você se surpreendeu, amou naquele tempo e espaço, como se fosse viver ali para sempre, sem uma pista sequer da duração do seu sorriso. A felicidade é assim, algo sempre inesperado, não tem hora certa para começar ou acabar, e não há razão de racionalizá-la demais.

 Abrace esse ritmo lento do tempo, quando estiver em um momento especial, com toda a sua integralidade, sem alarde. Deguste o doce sabor da vida, perceba como ela é generosa, intensa, uma experiência sempre única, e como é um verdadeiro milagre poder apreciá-la conscientemente.

 Aproveite esses instantes bons, não de forma a decorá-los e encaixotá-los em seu cérebro, como futuras fontes de nostalgia, ou mesmo porque eles irão se desfazer num segundo ou dois, mas porque esses momentos te fazem sentir, genuinamente, a alegria de ser humano, de se ter o sangue correndo nas veias e todas as sensações abstratas inclusas nisso.

 Não há arrependimento em se estar completamente presente.

 Acorde e sinta a vida.