Gostaria de inexistir, não de morrer, entende? A morte é demasiada, definitiva, irrevogável, um breu infinito em que eu não poderia "poder", gostar ou desgostar. Vou reformular, então: gostaria de não existir no mesmo plano existencial que os demais humanos. Melhorou? Francamente, quero dizer que eu seria feliz sendo fantasma.
Seria bem mais confortável que ninguém me dirigisse a palavra, que ninguém me notasse ou que lembrasse de mim. Isso porque o que eu sinto com relação ao mundo é inútil. Desejo, mesmo, é ser um espectro que perpassa incógnito por entre as multidões. E digo multidões porque existir entre humanos é, duplamente, meu maior dissabor e meu maior entretenimento. A eles não sirvo de nada, e isso só me entristece porque existo. Prefiro mesmo é assistir à biografia alheia.
As pessoas sofrem por motivos sofríveis, enquanto eu sofro por motivos desimportantes. As pessoas superam obstáculos, eu, no máximo uma pedra no meio de um caminho num poema que sequer é meu. Os outros são mais fortes, objetivamente, do que eu. Os outros amam e são amados. Aceitam-se em suas tribos. Vivem histórias que mudam o curso da humanidade. Unem-se nos tempos de paz, atacam-se nas guerras. Escolhem lados. Vivem e, portanto, merecem existir. A vida dos outros é digna novelização. A minha não daria uma charge.
Sendo um fantasma eu poderia ainda narrar as histórias, e sentir o que quisesse sem a ninguém ferir ou constranger. Não temeria a solidão por não ter outra escolha. Dançaria em cima dos prédios ao som do vento e do caos. E ninguém duvidaria de quem sou, nem eu, por ser eu mesma a plateia e o palco.
Brutal e bonito.
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