sábado, 27 de abril de 2024

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Poetria XXX

Olho por entre as fendas das paredes

De angústia, rangem meus dentes

Cubro com força meus ouvidos...

mas nenhum ruído vem incomodar.


O silêncio e seu prenúncio:

Este mundo não vai desabar!

"Mas iria!" - e depois assumo:

 Não é por mim que irá se acabar


Desde que o mundo é mundo

um acaso inoportuno não o tira do lugar

Muito menos estes infortúnios da vida


Nada fugaz lhe agita, estou aqui só de ida

Mesmo assim, a toda tragédia ocorrida

Fico tola, a assombrar: o mundo irá se acabar!

terça-feira, 9 de abril de 2024

Efemeridades

  Nem tudo me é possível, mas expando o que me é provável. Assim venho me conhecendo: ao testar-me os gostos e desgostos. 

 Usei várias máscaras durante meu crescimento, queria me encaixar nos lugares que não me cabiam. E só soube que não me cabiam, através do rigor científico da experiência empírica.

  Descobri que não sou fria, muito menos misteriosa (como gostaria). Pelo contrário, gosto muito de conversar: não sobre o dia, mas sobre os dias. Também sou hipócrita, porque escrevendo percebo que gosto do que é fútil, pouco menos do que é filosófico. Danço sozinha no meu quarto e prefiro amar sem dizer que amo.

  Também notei que amo todas as pessoas, mesmo as cruéis, contanto que não sejam entediantes. Mas se me entediam, busco tirar delas algum proveito, e elas acabam por estimular meu ócio criativo. Gosto de despertar nos outros uma interrogação, sobre qualquer coisa, mesmo sobre o dia (que disse a pouco que desgosto, mas que gosto).

 Analiso os personagens da minha vida, os acontecimentos, tudo, como se sequer existissem fora da minha mente. Sempre estou mergulhada numa realidade fictícia, meio cá, meio lá, meio em nenhum lugar. Antes não pensava assim, mas hoje me acostumei com meus paradoxos.

 Gosto de bagunças interiores e espasmos de rebeldia. Gosto dos meus desenhos, principalmente aqueles feitos no ócio, com caneta BIC, nos cantos das folhas do caderno. Prefiro dormir tarde, o silêncio das madrugas é reconfortante, como nenhuma outra hora consegue ser.

 É de madrugada que passo batom por motivo nenhum e que escrevo poesia, em que as músicas fazem mais sentidos e em que as cores da aquarela estão mais vivas. É quando sinto a melhor companhia de todas "mins" que aqui habitam, e que se espalham nos meus multiversos metafísicos. E apesar de falar muito, disso não falo com ninguém. Só escrevo.

A vida adulta me furtou as madrugadas de solitude. Até agora, não sou tão avessa a esta fase, até porque flerto com o poder de escolher as ordens que seguirei, coisas que a adolescência nem a infância possuem. Mas sem as madrugadas livres, sem o ócio, fica difícil escrever tanto quanto preciso, então a minha escrita anda enferrujada. Para que não se enferruje de vez, precisava escrever algumas efemeridades, mesmo nesta madrugada. Estou descumprindo muitas regras e violando vários princípios enquanto estou aqui, digitando.

Boa noite.