sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Premissa Maior

 Eu tô meio assim, sabe?

Meio que sei lá com não sei o quê, entende...?

É tanta tristeza, por tanto dia, que me destrambelhou.

Quando descobri que não existia um Deus, me senti frustrada. Como se tivesse sido enganada pelas pessoas. Minhas expectativas foram frustradas. Me veio um grande ódio. ENORME! ÓDIO das pessoas que me enganaram, da idiotice dos que crentes crendo em algo que não existe. Um ódio de ter tido as expectativas do pós vida frustradas. 

Enganada desde criança... Eu tava contando com  isso! Eu contava com a proteção!

Chutei o meio-fio, impotente, enquanto nisso eu pensava. No ódio que sentia da minha insignificância. 

As expectativas eram minhas, percebi. De mais ninguém. Quem crê, crê. Deus foi criado talvez por quem acreditasse, talvez não. A promessa é falsa, mas ter esperança sobre ela é algo que a gente resolve dentro de si.

E eu levei isso pra todas as áreas da minha vida, como uma premissa. A expectativa é nossa, a frustração é nossa. Somos um mundo que se regula a si. Não culpo o sistema solar por eu ser plutão.

Sou insignificante pro resto, mas pra mim, sou tudo que tenho.

O homem é indiferente, cruel, bom, caridoso. A humanidade é burra e incoerente. A humanidade tem, às vezes, grandes momentos de inteligência e coerência. Relógio quebrado acerta a hora duas vezes ao dia! É chocante como não nos explodimos, ainda!

E assim sou. Minhas expectativas são minhas. E deixo sentir raiva, tristeza e frustração. Mas evito que as terceirize às pessoas. A raiva, a tristeza e a frustração são de mim mesma.

Mas dói.

E quando dói, dói tanto que quase jogo tudo pro ar. Premissa maior, que se foda! Terceirizo, mesmo. Que se exploda! Dê conta dos meus sentimentos! Sinta culpa! Sinta dor, também. Role no chão, que te embrulhe o estômago, que queime em você o que arde em mim! 

E arde, caralho! 

E decidi há muito que deixarei sempre doer desse jeito, nessa mistura de raiva de amargor e de tristeza. E também decidi que enquanto vai doendo, vou separando a hipérbole da verdade, a emoção do seu impacto em mim.

E quem vê de fora, acha que é leve. E ousa me falar!

Aí que dói.

Vem sentir, então! Vem, porra! Vem pra briga!  Vem doer! Mas só sinto. Daí a triagem. Deixei sentir. Agora vou raciocinar. Ninguém tem que sentir nada por mim, ninguém tem que validar nada de alguém. Se dependesse da validação alheia eu estaria bem tranquila, sentindo é nada com coisa alguma. Eu dou conta de mim. Eu sei o que sou. Eu sei o meu dia, minha noite. Eu sei o que é choro e o que corrói, e o que foram as últimas cinco horas seguidas. E se, pelo caminho encontrar alguém, um só desses alguéns  que sinta algo comigo, que perca dois minutos do tempo se importando assim, vou deixar, que isso é caso raro. E sou grata por esse caso raro.

Humano, demasiadamente dualista. Incoerente desde o berço. E sou isso aí, também. Nascemos, choramos, rimos, depois acertamos em cheio e então a queda dói, e a gente rala, e depois se torna um vilão, depois um herói, um gênio e um palerma, um progressista e um ditador, então a gente caga, peida e morre. Puf!

A vida é um absurdo. Um absurdo! Que absurdo.

E, caralho, como dói!

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