sexta-feira, 6 de março de 2020

Dance

 Repare como as crianças rodopiam e pulam, conhecendo o mundo a sua volta com curiosa admiração. Colocam a mão para fora da janela do carro, se encaixam nos troncos das árvores, sobem nos móveis, colocam os dedinhos na tomada, se enterram na lama! Mas à medida que envelhecemos, o que foi aprendido com tanta diversão, com tanta pureza, passa a ser utilizado para metas, objetivos, fins, de forma necessária, obrigatória e laboral.

  De segunda até domingo, nos movimentamos em horário comercial, em troca de trocados, cansados, estressados, pensando no próximo prazo, nos relacionamentos, nas dívidas. Vez ou outra, por ordens  estéticas ou médicas, comparecemos a uma academia, dojo, box, e nos mexemos sob essa intensa ameaça à saúde, às dores ou problemas de autoestima, como reféns, pagando a mensalidade sem valorizá-la integralmente.

 A vida adulta é cheia dessas questões, quando se encontra uma solução, devem-se considerar outros milhares de aspectos, de subdivisões. Deve-se calcular tudo muito bem, de forma exaustiva.

 Às vezes o esgotamento mental bate tão forte, que somos obrigados a nos alongarmos mais no banho, na cama ou na cozinha, lavando aquela pilha de louças.

 Mas algo incrível vez ou outra nos acontece - em alguns desses intervalos, aquela música sensacional aparece na rádio e invade a nossa mente, afastando ou reprimindo as responsabilidades e crises adultas. 

 Os ombros deliciosamente se remexem, os pés se firmam para acompanhá-los e você se flagra... dançando! Dançando sozinho, sem julgamentos, vivendo um momento muito especial consigo.

  Dançar é utilizar o corpo para fim nenhum a não ser aquele de se expressar. Acontecem em alguns minutos, onde não há espaço para opiniões políticas, não há formulação de filosofias, planos, ansiedades ou tristeza.

 Esses movimentos aleatórios tentam acompanhar os graves, se dramatizam nos agudos, pra lá e pra cá, no refrão, como se protagonizássemos um show espetacular, sem plateia, sem o aguardo dos aplausos ou vaias. É a pura movimentação do corpo, a aceleração do sangue nas artérias, a pulsação do coração e a lubrificação das articulações. Libera-se a endorfina, e seus músculos repuxam um sorriso, mas você não vai lá se importar com os aspectos neurológicos ou anatômicos. Você simplesmente dança, bailando nos sons.

  É espetacular, ouso argumentar que é quase divino. Isso é viver intensamente, sem a necessidade da adrenalina.

  Se você permitir se entregar ao movimento, se concentrar nos pés, pernas, braços e ritmo, é como se transcendesse os problemas terrenos, subjetivos aos universais. É você consigo mesmo, integralmente, sem distrações, divertindo-se como a pura criança que foi.

  Divirta-se.





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