De uns anos pra cá ficamos muito ocupados, eu e meus amigos. Todos tão sobrecarregados com nossas próprias vidas atarefadas, que utilizamos os finais de semana e feriados para o sono recuperativo e não para a gandaia festiva, como antigamente. Não os vejo por semanas, meses! Até nos sonhos nos desencontramos. Adulto cansado sonha em tela preta. O cérebro à meia-luz não produz imagem.
Olha, deixar de ser um bicho gregário era algo impensável para mim há menos de uma década... Bem que me alertavam que aos trinta a coisa ficaria assim, que a vida não seria um Friends.
Marcar o encontro é uma tarefa à parte. Um diz "temos que nos encontrar, hein!" e o outro responde "qualquer dia desses" e ficamos nessa até que um de nós leva a sério e marca data, local e hora. Geralmente se trata de aniversário ou despedida - datas irrevogavelmente gregárias.
Se vamos adiar a sesta, fazemos por bem nos encontrarmos para um bom cafézinho, obrigatoriamente num lugar bom e aconchegante para conversarmos por muitas horas e colocarmos o papo em dia - até o próximo conclave.
Se chego antes no local, procuro sempre uma mesa em um canto mais silencioso, sem ecos ou muita gente por perto. Sou meio surda, e nada me irrita mais do que ter que pedir para a pessoa repetir a história — a emoção da narrativa original se perde. Sim, admito: estou ficando ranzinza. Quando encontro a mesa ideal, o ritual começa: aquecemos a conversa, desenferrujamos as gargantas e passeamos por todos os tópicos possíveis, desde metafísica até marcas de café, passando por política, economia, moda, biologia. E colocamos as gargalhadas em dia, também. Gargalhamos por todas as gargalhadas que não gargalhamos juntos nos últimos tempos. Por qual razão adiamos tanto esses preciosos encontros? Me revigoram muito mais que a cafeína, isso eu garanto.
Às vezes, alguém se questiona se a mesa ao lado está nos ouvindo. Bem, em primeiro lugar, acho improvável que se interessem por algo que não seja fofoca. Até porque não fofocamos — longe disso. O que fazemos é analisar a vida alheia como objeto de estudo biopsicossocial.
Em segundo lugar, se por acaso a mesa ao lado se interessar por nosso papo, não me desespero. Talvez sejam outros adultos que não presenciam há muito tempo uma conversa entre amigos... De todo modo, só pessoas especiais engajariam na nossa conversa e por isso deveríamos é nos sentar na mesma mesa. Afinal, se falta um parafuso aqui, falta outro acolá. Daí conversaríamos sobre parafusos.
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