segunda-feira, 15 de maio de 2023

Histriônica

Meus pés descalços
tecem o piso
em teu encalço 

Os dedos, precisos
aquecem o rastro
abrasam, febris

Sublimes! Hubris!
Histriônica! Κακία!
Deliciosa hedonia!

O caminho é longo
o caminhar devasso
Posterga mais teu olhar em meu passo.

domingo, 14 de maio de 2023

Sobre uma trend

  A internet é cheia de trends, adoro seguir algumas, outras não, como qualquer pessoa. Uma em particular me atraiu e me fez refletir, a trend consiste em contar aos outros sobre com quem aprendemos algo. E aqui vai (com algumas omissões imperdoáveis):

 Aprendi a sambar com a minha bisavó, a Mama, e ainda sambo assim. Ela também me ensinou a pentear os cabelos e como posicionar meus braços à mesa. Com a minha vó Iolanda, aprendi que ser diferentona é legal - ela também me ensinou um pouco sobre signos. Com ela aprendi que sou de escorpião. 

  Aprendi com a minha vó Marlene a ser bem humorada, a passar batom vermelho e a fazer um brigadeiro rápido e delicioso. Aprendi com a minha mãe a ser justa, a ter um pouco de modéstia e também a fazer bolo de chocolate. Com o meu pai, aprendi a nadar, superar o medo de altura e a andar de skate, patins e bicicleta - e não faz muito tempo que ele me ensinou a trocar as marchas no mountainbike para pedalar em terrenos específicos. 

   Com a minha tia Vivian, aprendi que ler é legal e ela também me mostrou como fazer nuggets e a gostar de torrada com requeijão. Minha tia Melina não me ensinou algo diretamente, mas indiretamente, ensinou-me a ser independente e a gostar de Alanis Morissette, Shakira e Jota Quest.

  Aprendi com o meu vô Zezé a caçar minhocas e um pouco de pescaria. Ensinou-me a amassar o arroz com feijão para deixar a comida divertida. Com meu vô Elson, que é quieto, aprendi que pintas podem nascer na testa. Ele tem uma que eu achava que era um botão. Nunca a apertei. E aprendi com ele que a gente pode ser amado, mesmo no silêncio.

  Na minha família, sinceramente, não tem muita gente com paciência para "ensinar", mas se não conseguiam, ao menos financiavam para que eu conseguisse aprender com algum profissional. Eu tive o financiamento de aprender a selar e montar cavalo (meu vô Zezé), de fazer aulas de balé (bisavó, depois minha mãe, depois meu vô), de fazer sapateado e dança de salão, de fazer aulas particulares de matemática e a estudar o ensino médio em colégio particular. Peguei esse jeito de aprender com profissionais. Uso o balé como base para dançar qualquer coisa. Danço sozinha quando estou feliz até hoje porque foi a "tia" Lúri que me fez amar o pas de bourrée.

    Aprendi a esfumar os meus desenhos com uma professora de artes que desenhava bastante bem. A gostar de escrever com a professora Ivonete, a amar literatura com a professora Sandra. E foi devido ao reconhecimento de um professor da escola que me meti a aprender inglês. Yeah, that's right!

   Aprendi como ser mais atraente com minha amiga de infância Ariana. Ela, mesmo dois anos mais nova, ensinou a me portar com os garotos. Aprendi a como me maquiar e pintar as unhas com a Bia, e a arrumar meus cabelos com a irmã dela. Aprendi sobre o que é "namoro" com o Tar. Com a minha amiga Bruna, soube o que era uma amizade de grande intimidade. O nosso florescimento adolescente foi muito especial! Aprendi a não ter vergonha de pensar diferente com o Alexandre, que desde jovem defendia seu ponto de vista. E a ser uma namorada, com ele, também. 

   Também aprendi uma pancada de coisas ao observar as pessoas errando. Uns erros, evitei, outros repeti. E alguns erros, com o tempo, notei que nem erros eram. Não há nome para certas situações, não há bem ou mal. Nem tudo é tão preto e branco. Os extremos sequer existem?!

  Quando mais velha, achando que já tinha aprendido de tudo, aí então que aprendi a expandir a minha empatia, foi quando encontrei com minha amiga Bia, outra Bia, uma compatível com a minha vida adulta. Fui ensinada a ter mais organização com a Laura, a ter mais disciplina com a Fer. A ser mais clara e objetiva, a ter mais autoestima e autodisciplina com elas. Elas sabem o quanto progredi! Nesse meio tempo venho aprendendo muito, muito, sobre o amor, algo que não cabe nesse texto, não cabe em texto algum, na verdade. Aprendi mais sobre a saudade, sobre como se compensa a tristeza com a alegria. Que grandes agruras acompanham deleites tão grandes quanto. Que apesar dos dissabores e dos finais, tudo tem um início para se começar e um meio para se apreciar. Aprendi a não esperar demais dos milagres, como antes fazia, mas a me contentar com eles. Não cabe aqui, também, os grandes autores, artistas, filósofos, que sequer sabem que eu existo, ou o quanto me ensinaram e ensinam.

  E quando penso no que aprendi, penso no quanto tenho a aprender, e como o aprendizado faz com que eu me sinta humana, feliz, um grão que com tantos outros grãos formam a terra, uma parte do que chamam humanidade.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Poetria XIX

Mais uma vez 

          a escrever 

     os trilhos 

        do poema 

      que  

         me levam 

a viver.