quarta-feira, 15 de abril de 2020

Perspectiva

  Muito me pergunto a quem pertencem os olhos que estão lendo essa frase. Será que conseguirei mantê-los atentos? Estão curiosos até aqui ... ou até aqui? 

                                                                                                                        ...E aqui??


 ALÔ!!!


                                                                            :)


  O que será que esses olhos acham de mim? Espero que gostem, que sintam, que fiquem felizes ou mesmo que chorem, mas torço para que achem algo, qualquer coisa! Fui escrito, justamente, pra não trazer é indiferença. Indiferença é meu arqui-inimigo, à ela prefiro até o ódio.

   Aqui, talvez, tenham se cansado, pois tenho a firme intuição de que todos os olhos querem saber do texto e não do que ele acha. Mas eu penso e me questiono, sim, senhor! Em excesso! E creio que meus sentimentos mereçam um pouco mais de atenção, as questões que me tocam realmente também... Será que seguirão passando as vírgulas, os pontos de interrogação ou mesmo seguirão para o próximo parágrafo?  Por favor, sigam! 

  Gostaria de encarar os olhos do leitor, pra ter mais certeza, mas não compartilho do dom do enxergar, só o do expressar.  Mas isso não me entristece, pois apesar de não ter visão, braços ou pernas, tenho o privilégio de ser infinito, lido e relido, interpretado e corrigido à exaustão, por diversas gerações - isso é imortalidade, coisa que os humanos apenas almejam. Aposto que você é quem ficou refletindo agora, não?

   Não que eu possua lá qualquer relevância acadêmica ou cultural, mas tenho certa importância pessoal, afinal de contas, sou um eco da autora, para além de sua vida. Se ela morrer, ainda estarei redigido, com essas mesmas palavras, que foram tecladas pelos dedos dela e que permanecerão como sua marca na existência. 

   Será que alguém está me lendo em um momento depois que minha autora se foi? Ou você é mais uma das pessoas que ela obrigou a me ler? Será que gostou mesmo do que mostrei? 

    Saber mais sobre você será eternamente minha dúvida cruel! De qualquer forma, obrigado por ter chegado até o final, tenha um bom dia, uma boa tarde ou uma boa noite e lembre-se: Estarei para sempre aqui, à disposição de seus olhos.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Consternação

 Quando sofremos, estamos no meio desse enorme furacão particular. Nosso sofrimento é o maior do mundo. Repentinamente! Como não veem?! Não há cura, não há fim pra dor, as palavras de conforto são todas genéricas, ineficazes, é escruciante. 

ES CRU CI AN TE! 

 Nos sentimos incapacitados e tudo a nossa volta perde um pouco da cor, um pouco dos cheiros e nada tem outro sabor que não seja de gororoba de hospital. Um girassol visto num dia ruim tem cheiro de velório, o sol é frio e nosso caminhar é fraco, como o dos doentes terminais. Cada passo à frente é reavaliado. Por que não voltar e deitar?

 O coração fica desritmado, como se morrendo em vida. Gritamos por dentro, usando toda capacidade pulmonar, porque a injustiça é grande demais, porque não merecemos aquilo. Choramos até os soluços. Nos escondemos em nossos cômodos, deitados como viemos ao mundo "É cruel, é cruel!". O riso do outro sempre é uma piada de mau gosto.

 Pra nós, um furacão de categoria sem precedentes! 

 Para os demais, 

 uma bola de feno rolando preguiçosamente no deserto.