segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Moscando

     Uma mosca estúpida deu a luz a várias outras moscas estúpidas, à exceção de uma. A mosca-não-estúpida tinha consciência de si e concluiu, após algumas horas de vida que: a) é uma mosca e b) é tão estúpida quanto todas as outras, com a diferença que é a única a notar isso. Qual a razão disso de viver? perguntou a outra desnorteada de sua espécie; a resposta foi um insatisfatório ''bzzz''.
    Depois de um tempo tentando estabelecer diálogos entre suas irmãs, a mosca-estúpida-e-consciente voou deprimida a procura de algo que a fizesse ser feliz- tão feliz quanto suas compatriotas- mesmo tendo tantas perguntas e medos dentro de si. E, enquanto estava no meio de um raciocínio sobre a conexão entre felicidade e a ignorância, ficou presa numa teia e foi, consequentemente, comida por uma gigante e estúpida aranha. 
    Nesse mesmo tempo, as moscas estúpidas que não foram presas pela teia, seguiram voando para nenhum lugar em especial...

A.C.Vilela

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O Planetário

Reportagem da marciana Cleonice Silveira para a revista O Planetário 13/04/2.352 às 13:35.


 Numa galáxia distante e desconhecida por grande parte do universo, em razão da sua falta de estímulo ao turismo, há um planeta sem nome que possui diversos habitantes inteligentes e civilizados que alegam veementemente não existirem. E é por essa razão que há dois anos terráqueos atrás, tredecilionários filantropos, atrás de um novo mercado de viagens à locais muito, muito distantes, enviaram cinco estudiosos desempregados de renome para que fizessem uma pesquisa filantrópica de mercado e trouxessem os motivos pelos quais tais seres pensam de forma tão... deprimente.
  
A ideia do tredecilionário Zheus é ajudar a comunidade em questão a ter mais alegria através do turismo - mercado quente após a descoberta de três galáxias trafegáveis. Em rara entrevista, Zheus declarou: "a alegria de nosso planeta será espalhada através do turismo, alguns amigos foram até o local e voltaram deprimidos, o que foi positivo, visto que o mercado psiquiátrico teve um bom aumento de produtividade... no entanto, não por muito tempo, o que é negativo, considerando sua queda em razão dos suicídios. Eu e outros colegas pensamos, então, numa alternativa de mercado que muito beneficiará a população: o turismo. A parte filantrópica é a suavização da depressão e suicídios".
 
Meses de estudos sobre o local trouxeram resultados exóticos: o suicídio de quatro dos cinco especialistas enviados até lá. Os suicídios foram os primeiros a acontecerem naquele planeta, segundo dados da Milionários Filantropos - S/A.

O corajoso único sobrevivente, ex-psicólogo e atual interno do Centro Marciano de Recuperação, Teobaldo Rios, passa por terapia de choque para evitar recaídas às drogas e evitar que ele destrua os últimos dados coletados no planeta de interesse. O motivo de sua depressão está exposto no trecho abaixo, conseguido com exclusividade por nossa equipe de reportagem, da única entrevista que não foi destruída pelo pesquisador em ato recorrente de vandalismo. Vamos à ela:

Teobaldo- Olá minha senhora, muito obrigado por ter concordado em participar desse estudo que pretende trazer empregos para sua sociedade. Você pode me dizer seu nome? Mas antes disso, a sua cidade é extremamente organizada e tem belíssimas paisagens, meus parabéns a vocês! Foi por essa razão maravilhosa que os Milionários Filantropos - M.I. S/A se interessaram tanto em trazer uma franquia de suas agência de turismo para este local cativante. Infelizmente o problema 'existência' pode acabar afastando possíveis viajantes que procuram um pouco de felicidade na hora de sair da rotina...

Inexistente- Eu não tenho um nome. Aqui ninguém tem isso. Obrigada pelos elogios, mas vocês tinham dito que estavam aqui pelo prazer de aprender e promover o intercâmbio de culturas, e não vender. Enfim... isso é irrelevante.

Teobaldo- S-sim, claro, isso também. Bom, prosseguindo... Não há algo que denomine a sua pessoa, ou melhor, que dê referência a quem você é?

Inexistente- Não há motivos para denominar o que não existe.

Teobaldo- Preciso insistir, senhora, meu emprego está em jogo. Não existe nada que te defina para que eu possa colocar nos arquivos?

Inexistente- Pode me chamar de inexistente, se for te animar.

Teobaldo- Ahã... tudo bem, senhora Inexistente. Notei que, assim como você, seu planeta não tem um nome. Passei os últimos meses tentando descobrir qual era e me disseram que não há razão pra isso... Chega de falar de mim, vamos falar sobre o fato da senhora existir tanto quanto eu e estar em negação sobre isso.

Inexistente- O que te faz crer que você ou eu estamos existindo? Não consigo compreender esse raciocínio estrangeiro.

Teobaldo- Hora, eu existo sim, pois penso! Estou pensando nesse exato momento.

Inexistente- O que me deixa confusa é que você acredita que pensar é um requisito para existir. Se for levar isso em conta, você existe, mas uma cadeira não existe, já que não raciocina.

Teobaldo- Então, vou me exprimir melhor: existir é estar no tempo. O que acha dessa?

Inexistente- [risos] Mas quando o tempo acabar, no que irá cravar sua existência? O tempo é um conceito! Nessa sociedade, ninguém existe de verdade, somos um breve suspiro. Só vivemos se houver alguém que se lembre do que fomos. Nos tornamos, depois, apenas sonhos. E todos sabem que sonhos não existem.

 A M.F. S/A foi procurada pela equipe, mas não quiseram gravar entrevista. No entanto, enviaram nota nessa manhã, transcrita a seguir:

''A M.F. S/A ainda está em luto pelo falecimento [posso suavizar, se quiser] de quatro dos nossos pesquisadores e em dor pelos traumas psicológicos sofridos pelo especialista número 5, durante a missão de expansão econômica e cultural de nossa empresa. A M.F. S/A se preocupa com todos os seus funcionários e deseja a todos um feliz ano novo.''


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Deus está morto x_x'

     Andava Deus tranquilamente entre um pensamento e outro quando tropeçou nas ideias de um reacionário brasileiro. "Quanta baboseira! Esse não sou eu! Como foi pensar isso de mim?" gritou inutilmente. Isso porque dentro daquela mente apertada não havia espaço para uma única onda sonora. No entanto, Ele descobriu uma luz no fim do túnel, um local para ser ouvido, um local onde muitas pessoas de cabeças reduzidas como aquela se encontram e param para ler sobre outras opiniões: a internet.
     Após a descoberta, ao voltar para o seu reino, o todo poderoso não conseguiu acreditar no que tinha visto. Há um mar de gente conectada nesse mundo novo que Ele não conhecia, pessoas vivendo muito mais num ambiente que sequer faz parte da sua criação! A Sua curiosidade foi sendo alimentada por este novo mundo, afinal, Quais os segredos tal lugar guarda?
     A decisão foi difícil, mas Ele resolveu conquistar essa nova terra sem reis ou regras. Para isso, foi preciso descer à lan house brasileira mais próxima, investir dois reais e cinquenta centavos, pedir ajuda para ligar o computador e criar uma página na rede social do momento. Ele olhou, estático, a tela iluminada.
     O problema começou quando o que procurar se tornou mais difícil que a procura, as palavras-chave ainda eram um mistério para alguém que nunca precisou disso. Deus olhou em volta e pediu ajuda ao jovem entretido na máquina ao lado. O garoto disse que criaria conta no facebook "pro velho", mas apenas se recebesse likes num sorteio de uma página. Deus concordou, apesar de não fazer ideia do que isso seria.
     Se me perguntares por onde anda Deus nos últimos anos, a resposta será ouvida com muita confusão: rebatendo cristãos nas redes sociais, sendo popular entre ateus e deprimido.


A Autocrítica

     Não há como negar o começo incrivelmente batido dessa frase. A pobreza do discurso e a falta do conteúdo deste parágrafo inteiro é um completo desastre, e é preciso fé para que a leitura dos próximos prossiga de forma a não instigar o suicídio.
     Ah, céus! Esse desenvolvimento de texto não diz nada que seja relevante social, psicológica, educativa ou moralmente. O problema, talvez, esteja no aspecto vitimista que a autora exprime em cada sentença, deixando assim o leitor arrependido de ter sido alfabetizado.
     Não obstante, essa parte do escrita só serviu para que a autora se depreciasse ainda mais, antes mesmo de mostrar a que veio.
     Por fim, a conclusão apenas relembra a fraqueza da introdução e persiste no que se revela um texto fracassado. Sendo assim, essa redação é a prova escrita da necessidade de um pensamento ecológico na hora de se fazer uma obra.


A. C. Vilela