terça-feira, 22 de julho de 2025

Vinícius de Moraes no Pole Dance

Os sonhos também são a vida, apesar de parecerem um intervalo dela. Já houve épocas em que eu preferiria viver mais lá do que cá... até que tive um pesadelo. Despertei sentindo um grande alívio por ter fugido dos braços fantasmagóricos de... seja lá o que era! 

É comum que eu acorde e, ao tentar recordar, vá esquecendo. Se lembro da cor, esqueço o nome; depois, não lembro nem da cor, nem do que falava. Daí tomo meu primeiro gole de café.

Quando eu era criança achava que os sonhos revelavam o futuro, desvendavam o passado ou me traziam respostas. E buscava nas lembranças algum sinal, qualquer que fosse! Ouvia belíssimas músicas em meus sonhos, e as colocava no papel sem nunca me recordar bem composição. Eu pensava que, encontrando as palavras perdidas - que faziam tanto sentido no mundo sonhado - teria contato com algum encantamento do universo.

Essa crença foi reforçada uma certa vez em que perdi a fita da minha sapatilha de balé. Tinha revirado a casa toda atrás dessa bendita! Mas foi num sonho que a encontrei: na primeira gaveta do criado-mudo, debaixo do caderno de desenhos. Despertei e... lá estava!

Mas, qual sentido místico haveria em sonhar que eu estava voando sobre uma embalagem de Colgate gigante, cujo combustível era a pasta de dente? Para conseguir voar mais alto, era preciso saber enrolar a embalagem corretamente, o que era praticamente uma arte que somente eu dominava. Qual a didática do universo numa coisa dessas? Que Colgate é realmente a mais indicada entre 9 a cada 10 dentistas?

 O que acontece é que os sonhos são uma gororoba das nossas memórias. O jeito correto de retirar pasta dental é enrolando corretamente para retirar o conteúdo. E essa é a maneira correta de interagir com uma pasta dental. Mas voar numa delas? A ciência tirou a mágica da coisa. Mas deixou a curiosidade intacta.

Aquelas pessoas que caminham pelas minhas paisagens lúdicas não são minhas desconhecidas, são ecos de alguém que eu tenha cruzado enquanto atravessava a faixa de pedestres na minha última viagem à São Paulo, das pessoas importantes, das desimportantes, de alguém que só vi de soslaio.

Nos sonhos fico muito contemplativa. Tudo é muito relevante. A lógica onírica é muito particular.

A gente nem sempre sonha com o que precisa, muito menos com o que quer. É incomum que eu sonhe com as pessoas que mais convivo ou com os momentos que mais sinto saudade. Já tentei arranjar solução: ter sonhos lúcidos. Isso porque ouvi falar, na adolescência, que seria possível despertar em sonho através da prática de alguns exercícios. Eu queria muitíssimo beijar um garoto... No entanto, só consegui sonhar que estava lúcida. 

Dia desses sonhei com memórias boas, senti muita felicidade, senti cheiros, ouvi sons, e até consegui me manter em primeira pessoa por alguns segundos. Nos sonhos é como se eu fosse uma narradora: sei o que sentem todas as figuras, até mesmo um vaso de planta. Mas raramente eu sou Eu. 

Bem... Nesse sonho em específico, que estava tão bom, recebi uma ligação urgente: O Vinícius de Moraes foi fazer uma aula experimental de Pole Dance - e passei o resto do sonho tentando chegar no estúdio de dança.

Fico pensando se já sonharam comigo. Como as pessoas me enxergam dentro das mentes delas? Será que fui figurante no sonho de estranhos? Como é minha figura espectral? Será que fui vilã num pesadelo ou mocinha numa fábula? Percentualmente, estou presente em mais devaneios bons ou ruins?

Será que o Vinícius de Moraes praticaria Pole Dance?

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Blablablálogia

Sempre gostei de desenhar coisas bonitas e desde cedo quis encontrar a essência da beleza. E buscando-a, percebi que todas as coisas são belíssimas. Um nariz comprido, a pele manchada, rugas, olhos estrábicos, lábios finos, dentes tortos, varizes, cicatrizes, calos nas mãos e tantas outras marcas da vida. 

Busquei a pura inteligência. O que faz de uns melhores e outros piores, sabe? Hoje a vejo em cada ser humano - não só, como a encontro nos animais, insetos, e na própria energia da vida.

Procurei, ainda, uma ética. A Ética. E fui compreendendo como cada escolha humana é complexa, que é construída num contexto, desconstruída n'outro. Alguns vieses biológicos aqui, a cultura ali, uma pitada de calor do momento e... plim! Uma decisão é tomada.

Ah, e como investiguei o sentido da vida! Para onde vou? Por que vim? Notei que a vida não tem um sentido diferente da morte.

E, ainda, a liberdade. Como possuí-la? Venho percebendo que liberdade e prisão talvez não se diferenciem. Talvez não sejamos nem livres, nem prisioneiros, mas algo que ainda não sabemos nomear.

As regras da vida são absurdas. Exceto esta: O que é, é, o que não é, não é. Mas por quanto tempo?

E aí... me perdi.

Me perdi do conforto da previsibilidade, e tomei o caminho da imprevisibilidade. Não há como voltar, a menos que perca minhas memórias. O mundo nunca fez sentido humano, nem divino. E apesar do medo, a vida é isso. Isto.

Gostaria de enlouquecer para tragar os anos num só gole, mas não enlouqueci. Tentei ignorar os olhos do abismo, fechando os meus bem apertados. A tragédia é que continuei sã.

Como é terrível conviver com as dúvidas... Mas mesmo que as respostas me fossem entregues, a esta altura do campeonato elas não me satisfariam.

E como eu poderia ser feliz dentro de um tornado?

Então... eu sorri.