Não se ama lá muito bem de primeira… as tentativas talvez sejam o que chamamos de paixões. É a paixão a tentativa de comprimir o amor da vida inteira numa só pequena pílula. A paixão é aquela coisa corrida e perigosa que se abre num domingo e leva Romeu e Julieta para os braços da morte numa quarta-feira.
A paixão é uma cópia mal sucedida porque amputa o amor de muitas formas e, sem piedade, não o faz com anestesia! Amputa-lhe o apuramento, o processo delicado da mesmice, da rotina, do tédio, da calmaria, do envelhecer, de seus sutis altos e baixos, comprime-o a um tamanho ínfimo de sua mais elevada e mais baixa parte. Tão ínfimo… mas tão intenso e viciante, que muitos de seus sobreviventes são como os drogados que perambulam nas ruas, capazes de se comprometerem à vilania, só para satisfazerem o desejo de receberem da paixão mais um bocado.
E perambulam, até mesmo quando cientes de que uma paixão bem sucedida tem consequências tais como a dose mais letal do mais letal dos venenos. Ao final da paixão, sobra-lhes o trauma, o ódio e o ressentimento.
O amor, por outro lado, guarda em si tudo que é belo e trágico da poesia. É mais que um breve sentido, o amor é um reconhecimento do carinho e do afeto. É ele singelo e simples, como o caminhar tranquilo do idoso, é o leme pacífico em meio às ondas agitadas e o racionar da água em meio ao deserto.
O amor nunca é bem-sucedido, porque nunca será ele mal sucedido. Assim é que se o reconhece. É o material entregue à maestria de um experiente artesão, que mesmo no que lhe parece defeituoso, encontra ali uma saída criativa. Apara suas arestas, limpa e contorna o intrincado trabalho, usa suas peças como elas estão, entalha ali o que se cabe entalhar.
Cada amor é único e especial, e mesmo que dure pouco, que não consagre a união de suas partes, que seja só, o artesão que o recebe faz dele aquilo que dura no peito eternamente com a dignidade finita da nostalgia.
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