quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Carnavalesco

Dança a baiana, o preto, o branquelo, a moderninha, o jacu e o pardo

Arrasta a sandália raspada, o tênis de marca, o pé pelado, o salto quebrado

Inspira o perfume lançado, a marola... Ih! grudou cerveja no solado!

Balança o cabelo vermelho, o grisalho, a careca branca, o encaracolado

Beija a boca bonita, a boca que era esquecida e o beiço do desdentado

Da Mônica, do Cebolinha, da Afrodite e do político cassado

Se enrosca nos abraços e afagos dos enamorados

Ah, espera o sol baixar, espera a lua, espera mais um bocado!

Encharca a boca d'água, volta melhor que ela seca no abadá rasgado.

E dança mais o gaúcho, o paulista e aquele Walter Mercado!

Dança você, feliz, do meu lado

Porque a festa nunca se acaba!... até o fim do feriado.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Prosaicologia I

Todo mundo ama igual, todo mundo sente o mesmo. É a mesma confusão em todo parte e em todo corpo. É a mesma ebulição em todos os nervos. 

Dura, cá ou lá, o mesmo tanto de tempo para que o peito entenda que aquela colisão de átomos não foi um mero curto-circuito. 

Quando se dá conta da explosão, já se houve explosão.

E há quem pense que foge, quando é um fugir sempre acorrentado.

E o coração de todo mundo bate na mesma arritmia. O sangue, do A+ ao O+ sobe e desce rápido em todas as veias. 

Todos os olhos apaixonados de todas as cabeças apaixonadas afiam a visão, e toda visão é de amor. 

Os sentidos troçam a intuição.

"É ele ali, cruzando a rua?"

Se já o vi há pouco em dez canais da televisão, se já o vi no alto da montanha, passeando com o cachorro, cuidando do jardim, se estava ao meu lado há um segundo atrás? Se já o vi em todo trajeto até aqui?

Mas é ele ali? É ele ali cruzando a rua?"

E os narizes se especializam na arte da osmologia. A nota do amor reside em cada perfume exposto da perfumaria, em cada flor do campo, flutua no éter, busca-o como a um fugitivo, quando ele nunca realmente descola das narinas.

Os ouvidos, deliriosos narcisistas ouvem em toda música o canto do amor, como se feita para si. 

Cada um de todos sente pelos poros que ali em seu coração bate um amor jamais visto, jamais sentido, jamais escrito. 

Mas o amor é um clichê sem contorno, esconde-se num enredo, parece ter bifurcações, mas é linha reta. 

Pode-se contá-lo dentro de um monastério, dentro de uma estação de trem, embaixo da ponte, em cima do castelo. 

Seja comedido, seja retribuído, proibido ou embriagado. 

Esteja a princesa no alto da torre ou a prostituta na zona boêmia. 

Dure ele o que durar. Dura-se um dia ou mesmo uma vida! Mesmo que essa vida dure um dia só. Ou que o amor se acabe ao raiar do sol.

Vira-se, revira-se, é ele, o mesmo autor de todas as histórias, das fábulas, das canções, das poesias, o maestro de todos os mesmos desfechos. 

Tamborila os pequenos dedos em suas flechas. Travesso, o amor é como criança inocente correndo feliz com uma tesoura. Sabe-se lá se vai doer! Sabe-se lá se cairá.