Todo mundo ama igual, todo mundo sente o mesmo. É a mesma confusão em todo parte e em todo corpo. É a mesma ebulição em todos os nervos.
Dura, cá ou lá, o mesmo tanto de tempo para que o peito entenda que aquela colisão de átomos não foi um mero curto-circuito.
Quando se dá conta da explosão, já se houve explosão.
E há quem pense que foge, quando é um fugir sempre acorrentado.
E o coração de todo mundo bate na mesma arritmia. O sangue, do A+ ao O+ sobe e desce rápido em todas as veias.
Todos os olhos apaixonados de todas as cabeças apaixonadas afiam a visão, e toda visão é de amor.
Os sentidos troçam a intuição.
"É ele ali, cruzando a rua?"
Se já o vi há pouco em dez canais da televisão, se já o vi no alto da montanha, passeando com o cachorro, cuidando do jardim, se estava ao meu lado há um segundo atrás? Se já o vi em todo trajeto até aqui?
Mas é ele ali? É ele ali cruzando a rua?"
E os narizes se especializam na arte da osmologia. A nota do amor reside em cada perfume exposto da perfumaria, em cada flor do campo, flutua no éter, busca-o como a um fugitivo, quando ele nunca realmente descola das narinas.
Os ouvidos, deliriosos narcisistas ouvem em toda música o canto do amor, como se feita para si.
Cada um de todos sente pelos poros que ali em seu coração bate um amor jamais visto, jamais sentido, jamais escrito.
Mas o amor é um clichê sem contorno, esconde-se num enredo, parece ter bifurcações, mas é linha reta.
Pode-se contá-lo dentro de um monastério, dentro de uma estação de trem, embaixo da ponte, em cima do castelo.
Seja comedido, seja retribuído, proibido ou embriagado.
Esteja a princesa no alto da torre ou a prostituta na zona boêmia.
Dure ele o que durar. Dura-se um dia ou mesmo uma vida! Mesmo que essa vida dure um dia só. Ou que o amor se acabe ao raiar do sol.
Vira-se, revira-se, é ele, o mesmo autor de todas as histórias, das fábulas, das canções, das poesias, o maestro de todos os mesmos desfechos.
Tamborila os pequenos dedos em suas flechas. Travesso, o amor é como criança inocente correndo feliz com uma tesoura. Sabe-se lá se vai doer! Sabe-se lá se cairá.