quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Poetria XXII

O meu amor é deitar ao teu lado, 

numa noite escura, 

e contemplar estrelas...

na retina tua.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Eu ia dizendo

Esse gosto de sal...

Engulo a saliva grossa

o ar de tocar as cordas vocais não toca

Não sai palavra, o ar dá volta, 

retorna, a expiração se agiganta

O silêncio esbarra no dente, tranco o lábio

Só ouço o nó na garganta.



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

NADA ACOTECE FEIJOADA

 


Enquanto o ar condicionado faz efeito, enquanto o sono não vem, nessa noite quente de inverno, deito os dedos nas teclas, apago, reescrevo e eis o motivo: não tenho qualquer coisa a dizer. Coisa nenhuma. Só uns pensamentos cansados.

 A vida dos poetas é animada? A vida dos escritores, dos artistas, dos pintores? Sim. Creio que sim. Eles vivem! E é a vida acontecendo com eles, essa que perpassa seus crânios, tira deles toda boa arte e poesia. A arte é a vida expressada. Mesmo a arte ruim e a má poesia são a vida... Acho que a vida perpassa até mesmo os artistas ruins, buscando uma forma de se expressar. A culpa não é da vida, mas do crânio do artista que não funciona direito e passa uma vida que se expressa desajeitada, cheia de plágios, erros gramaticais, imitações, remixes. Às vezes a vida quer se expressar num artista que está com as mãos muito ocupadas e o labor tira o lápis das mãos. Mas o pulso da arte pulsa, pulsa, pulsa no pulso, nas mãos, nos dedos, na vida do artista.


 Essa vida não anda acontecendo direito comigo e a culpa é minha, que estou enclausurada. Meu crânio anda sobrecarregado, não tem espaço para a arte, só para o cansaço. O pensamento está cronometrado e minhas mãos sempre, sempre, sempre ocupadas. Daí não sai nada de arte. Nem boa, nem ruim. Nada. Não deixo a vida acontecer comigo e não aconteço com ela. Por isso não entendo qual o meu impulso de escrever. Também não entendo meu pulso de viver, de pensar ou de ocupar minhas mãos. Mesmo assim eu vivo do jeito que dá, penso no que posso, quando consigo e deixo as mãos calejadas. Ocasionalmente, sai alguma arte - arte cronicamente má. Mas arte.


 A parte boa da arte má é que ninguém se importa, ninguém entende. Ela sai porque deve sair e sai com as palavras que o artista conhece, com seus vícios de linguagem, com a estrutura que intuitivamente entranharam na escola primária. Com quantas artes se faz um artista? Uma só? Só se for boa?

 E cá estou. Sem ter o que dizer, dizendo nada, fazendo arte.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Rabisco

O ar quer sair dos pulmões 

passar livre pela boca aos rojões

Essas cordas vocais sequer tremulam

Se obsta o som na língua e seguram


Cerra seu nome em meus dentes

prendem seu timbre em meus lábios

Mas as belas curvas! A grafia!

Tremulam vivas no vocabulário


Esse espaços entre as letras

do lápis brincam feito cirandeiras

suas vogais... suas consoantes

se reescrevem - nunca como antes


Esses rabiscos atentos

Apago, camuflo, não somem

os retornos e cruzamentos

que formam seu nome.