sexta-feira, 28 de abril de 2023

Poetria XVIII

Deixa-me mais de teus indícios
tudo em que tocaste é solo sagrado
inclusive a mim e a meus vícios
em teus desejos encarcerados
são teus os lugares que ninguém mais tocará

Autotomia, meu bem, a capacidade de se despedaçar
de perder, perder-se e se regenerar
Vá, deixe tua faceta de fora
e solta em mim teu instinto

Não responda tão rápido o que sinto
num caleidoscópio, somos muitos nós
e todos nós, mil labirintos

E se teus dedos os alcançassem todos, embriagados de absinto!
Meus fluidos, nossas águas, teus líquidos
além da idiossincrasia e da fabulação
além da tua pele faminta, alimentada
das tentações de um deserto que te finges são.

É tudo tão simples, tão vão!
Um crime de quatro mãos
Saciemos a fome da tua gana
Mate tua sede em minha cama
que é um atar de nó que não ata
Matemos a saudade
enquanto a saudade nos mata.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

λ

Viva! Viva! Um brinde às coisas não faladas!

Veja, não se cortam as palavras

Nem que se afie muito... muito sua espada

Do punhal, não gaste as punhaladas


Lança-se a rede lá, bem longe da jangada

Ingênuo se pensas só na pescada!

A sorte (única): agarrar a rede lançada

O certo destino é perdê-la dentre as águas


E por mais que mergulhe, estará despedaçada

Não... não pelos cortes - pela própria água!

Dissolvida, entrelaçada, pelos ares evaporada.


Brigará com os ares com uma lâmina?

Não lance redes com suas mãos lânguidas

sem medir as ondas como lambda.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

O que sou?

  Cá, nesta primeira linha, notável que não sou poema. Não quero me distribuir em estrofes, nem desejo me fazer rimas. E daqui não sai uma torta letra de poesia. Ponto! Quero passar uma mensagem. Mas, Deus, livre-me de ser científico! Não tenho nada muito lógico aqui para apresentar. São textos de regras inúmeras e leitura entediante! Não, não e não! Preciso me testar... ou "textar"? Hehe... "TEXTar", percebeu? Hehe, definitivamente, não sou de comédia. Isso, pode riscar.

  Agora falo sério, talvez seja eu algo moderno de poesia, não posso ficar de má vontade, preciso me testar e me descobrir, antes do fim...

...

da 

linha

Oh! Linha do fim

que sentencia e alinha

dando ao texto o bom fim

feito o cristão


  Retorno à minha forma, não... não sou rima, tomo a contramão:

[1,5cm] A amostra acima transcrita, trata-se da confirmação de que há formas melhores de expressão - ao contrário do que se vê neste exato parágrafo. O N amostral confirma que um alto percentual de leitores prefere compreender a mensagem. Para que o leitor acesse o conteúdo com qualidade, é preciso que a obra textual tenha início, meio e... blá, blá, blá, o leitor morrerá num porre, muito chato. Não. 

  EXTRA! EXTRA! Este texto pode ser de jornal! - "Pode", não, que "pode" dá margem demais à interpretação. E jornal é definitivo. É DE JORNAL! É texto de jornal! Não de jornaleco, nem de jornalzinho, mas de Jornal com J maiúsculo! Imbatível no quesito atrair o leitor! Polêmico! Curto! Rápido! Fácil! Um pouco indigesto. E só metade da metade da metade da informação! É... Também não... não gosto muito de confusão. Preciso antes é eleger um conteúdo, para então contá-lo. Seria mais legal se fosse uma história de ficção, sabe? Rascunho o que quero e depois encontro minha forma e digo o que sou...

  Uma história de terror. Chove lá fora. As garras da escuridão encobrem tua vista. A madeira range embaixo dos teus pés, não estás sozinho. Sinta a presença que se posta ao teu lado. Ela pousa os dedos disformes em teu ombro. Tua boca se enche do fel do teu sangue e teus cabelos tremulam com o sopro frio da tua morte... Hum... melhor não.

  Grandes amores e longas viagens! Algo mais leve, algo de época. Um grande amor que supera as fronteiras da redação nasce: um leitor medieval se apaixona por este texto!... Hum... Talvez... Ah! Melhor: Naves alienígenas invadindo a terra - os leitores gostam da ação - os seres tocam nossas mentes com suas mensagens de paz, e iludidos, como na flauta que encanta ratos, os homens são somente carne no abatedouro do cosmos! Ou, ainda, algo político, que engaje, que mude o mundo! Algo que se passa nas terras tropicais latinas, envolvida no cantar dos povos pela liberdade, os rebeldes heroicos pegam em armas e libertam as almas famintas das amarras dos canalhas fascistas que monopolizaram o poder. É um tema espinhoso, pesado, poderia ser algo que agradasse às criancinhas e suas grandiosas mentes em suas cabecinhas. Uma história sobre dragões mágicos que, mesmo com suas espinhas, dormem juntinhos para manterem aquecidos os fogareiros de seus corações, e daí que sai o poder de seus fogos!

  Um texto bom não precisaria explicar a que veio. O leitor já saberia do começo à conclusão... Este texto...este texto. Este. Texto. Hum... EUREKA... já sei! Esse texto é uma bagunça.


segunda-feira, 17 de abril de 2023

1, 2, 3... Textando

Em toda folha branca ou canto livre

aonde cabem versos, os versos livres são você

e eu - e alguma esperança.

E esses sentimentos solitários vem e vão

como as ondas embriagas nas areias - e verão

escorrendo dos meus dedos num traçado de poesia herege

que não encanta, desencanta, rasgo-me e tudo se perde

diverge, converge, e retoma a iniciação

E tudo... tudo isso, pois, não há, repito, não há

como te descrever sem a lírica da fantasia, dos superlativos

das grandes frases sentimentais

Não há nada neles que não seja arte, que não me parte

e dos pedaços que reparte me refaz 

e os escrevendo, vou-me obedecendo

aos comandos da emoção antiga

e a cada linha escrita apaga mais nossa distância

e a nossa morta infância torna à vida!

E a escrita aflita. Aflita me sai cambaleando

entre as cifras imaginadas e apagadas

numa sem luz, numa imensidão

e então te deixo, 

deixo entrar em mim um lumiar

da tua graça

E de pirraça entras em mim como os passos da dança

que iniciam no salão

e queria eu poder ter os porquês e o domínio de todas as palavras

dos travessões, das vírgulas, das reticências e aspas!

Vai que passa... vai que passa

o teu turbilhão.