sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Serotonina, Destino e contradição

  Todos nascemos com a capacidade de amarmos mutualmente e o nosso berço regula esse amor. Sinto amor pela minha família, ela foi a primeira a me ensinar nesta terra o que eu deveria aceitar e negar, o que me fazia sentir cuidado e o que eu deveria fazer para cuidar de quem amo.

  Aprendi que no amor a gente também se estressa, que tem quem te tenha amor, mas que seja mais egoísta, que tem quem não te ame apesar de aparentar te amar, que vai te dizer palavras bonitas depois de um ato cruel, mas que essas palavras não são de amor, só de culpa. 

 O amor da família é tão confuso! O amor da família é inescapável! O amor da família é... condicionado! Tal qual cachorros, fomos treinados para amar sangue do nosso sangue. Perguntei-me numa época: existe saída? Há algo maior e genuíno?

 Os filmes me ensinaram, os livros, as revistas, os sites, os blogs, e EUREKA!: o amor da família era sempre mais turbulento do que o se encontra nas almas gêmeas. O amor existe e ele é romântico! Minha alma caminhava por aí a me esperar! 

  Tal qual os românticos, desenvolvi essa expectativa que no primeiro suspiro, no primeiro arrepio, o amor da paixão me livraria das intempéries do condicionado amor familiar e eu conheceria o verdadeiro. Apaixonei-me pelos poemas, o lia nas prosas, sentia-o no vento, sentia o amor fibrilar no éter!

  Até então, eu cria em muitas coisas, dentre elas, o poder do Destino ou que o destino de tudo era o amor. E esperei... esperei. Esperei. Esperei. Cansei-me de esperar. E procurei, então, o caminho sem ajuda nenhuma do Destino. Ou o Destino queria me fazer procurar? Procurei. E confundi-me em seus labirintos: a admiração é o amor que chegou? A beleza é o amor? O coração batendo errante é o amor? O amor se foi, que horas ele volta? Quais suas regras? Há manual de instrução? Há de ser corajoso para perseguir o amor ou se ele fugiu não era para ser? 

 A beleza não é o amor, ela acaba, a admiração é só admiração, o coração batendo errante? Timidez ou arritmia, ou desejo. Conclui: é tudo tão mais simples e carnal. O amor é esse pseudo-mistério que preenchemos com nossas crenças. Tudo que envolve amor, envolve serotonina, dopamina, sinapse cerebral, envolve, como finalidade, a sobrevivência da espécie pela reprodução humana. Esse conjunto de sentimentos, de condições genéticas, marcas do espaço-tempo, unidos, que são tão recorrentes entre nós humanos, é o que chamamos de amor. Ele é bom quando dura, quando recíproco, quando socialmente aceito, é ruim quando é contra-cultura, ou solitário, ou quando se finda, seja pela reduzida produção dos hormônios, seja pela própria morte que a tudo separa.

 Há quem possa perseguir o amor para o alcançar, há quem receba o amor no colo, levinho, sem esforço. Há quem passe por intempéries e consiga consumar o amor, há quem passe por intempéries para fracassar. E quem fracassa, diz para si "não era o amor a visitar, era a carência a confundir". O amor, como os deuses, não erra. Em todo erro o amor não está, em todo acerto é ele por certeza. Toda moléstia é o preparo para a sua eufórica chegada! Que cansativo é o amor. Que indiferente é o amor.

 A descrença em muito me foi confortável, menos quanto ao amor. Tal qual todas as coisas, é uma ficção, um delírio coletivo, uma mentira feita por esses nossos cérebros criativos, repassada de geração em geração. Uma mentira contada muitas vezes se torna uma "verdade", e essa é a mentira: é o amor. E poemas se tornaram essas piadas de mau gosto, os filmes só querem a bilheteria, os livros, o best seller. Esta é a realidade: os poetas apertam os botões certos e reagimos com o maquinário, apaixonados. Manipuladores! Mentirosos! A vida é uma tragicomédia mal dirigida!

 Cessei minha busca. Não o espero, não o procuro, não penso nele, ele não pensa em mim, o destino inexiste, todos os caminhos são pontes a serem construídas, não meros passeios definidos por nossas sinapses cerebrais, nossas expectativas, nossos sonhos. O saudável é manter as sinapses cerebrais direcionadas para determinadas reações químicas. Somos máquinas orgânicas, pré-programadas, racionais por acidente, não há nada além. No lugar de fios, temos veias, carne e ossos no lugar de metais e plásticos.

Até que o amor chegou.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Poetria XXIV

Os pensamentos dão risada

voltam, retornam, guinada

Piso, repiso, transpiro

piro, retiro, suspiro...

Acendem, apagam

mergulham e nadam

Lutam, discordam

conciliam, concordam

Pois nesses dias, assim

canso-me muito de mim.


sábado, 2 de dezembro de 2023

Poetry IV

Looked for a while

into the eyes of death

Oh, and I've smiled

when they stared me back.


sábado, 25 de novembro de 2023

Aristóteles, Babadook e o que o pior pode nos ensinar

 Criados para reprimirmos todo tipo de sentimento ruim em busca de uma casta e santificada moral, para sermos como anjos na terra dos demônios: esses somos nós, os humanos. Os mesmos humanos criaram seus extremos de amor e de ódio. O demônio que ruge é o mesmo Deus que chora. Reflita comigo sobre isso, o mal não nos parece tão maior que o Deus que nos protege? É como se o mal fosse mais inato que o bem! E a afirmação da maligna natureza humana encontra uma suposta justificativa nas emoções humanas, vis, sádicas, perturbadas, impudicas e carnais. Agimos, internamente, como se estivessemos numa guerra de lado certo: o bem e tudo que é positivo e alegre contra tudo que é ruim e negativo. 

 Nosso lado obscuro, muitas vezes, parece maior do que realmente é talvez porque não o conheçamos direito. É um teatro de sombras! A que distância a figura está da chama? Só se sabe se se olha para ela.

O cinema do terror utiliza uma técnica de assombramento: cria-se um monstro que não é apresentado ao espectador, isso se justifica porque a imaginação cria algo pior do que a realidade pode apresentar. E quando o monstro aparece, a grandiosa expectativa pode ser frustrada, a suspensão voluntária da descrença acaba, o espectador volta ao mundo real. Fim. 

 Assim como no filme, agimos com o que nos é desconhecido, seja ao não ver a figura de Babadook ou ao evitar o lado maligno que habita a humanidade. Vou me conhecendo com as circunstâncias - e com elas, percebendo que meu controle emocional é maior do que as obscuridades que tanto temo de possuir. 

 Quando se remói o pior, de uma forma racional, cria-se a possibilidade, que até então não existia, de que aquele ciclo não se deve repetir. Remoer pode despertar uma raiva sadia, uma tristeza alarmante, um temor sagaz.

  A raiva é o combustível das mudanças difíceis, nos dá a potência da ação frente às situações que parecem imutáveis. Ela devora o medo e a tristeza com seus dentes pontiagudos e sua fome voraz, impondo um agir, um rasgar da fantasia da vítima. Nela, conhece-se o herói, a chama que cada humano possui - e o quanto ela pode brilhar!

  O medo é o amor paternalista do corpo pela sobrevivência. É o sinal para parar, para se recolher, para saber onde pisa, reavaliar as condições, buscar abrigo até que se consiga outra saída. É tão importante saber dar passos para trás quanto os passos para frente.

  E o remorso! O remorso! É importante ter uma boa dose de remorso da companhia que te faz mal, do mal que por você foi causado a alguém, da conduta que não se deve repetir ou mesmo da conduta que não se deve permitir, do contexto que se deve fugir. O remorso bem utilizado não te deixa esquecer, o remorso não te deixa repetir.

  A tristeza, a qual tanto fugimos, é fundamental. Ela gera um período de reflexão e reorganização mental importantíssimo. É uma fase poética em que os olhos enxergam o outro lado do mundo, aquele que parece escondido à plena vista. É o momento que pode ser dirigido para o crescimento intelectual e moral. A tristeza pode trazer a sensibilidade para o conhecimento e o amadurecimento da empatia. Ela pode ser tão bela e envolvente que há quem se apaixone por ela.

  E são todas essas emoções que se misturam que formam as cores da vida. É um baita clichê dizer que não se conhece a alegria sem se conhecer a tristeza. Mas há um erro cometido por nós, seres de sensações e emoções, o qual é o de vivenciarmos algumas delas no lugar das outras, que é o de sorrirmos quando querermos chorar, de dizermos sim quando ansiamos o não, de tentarmos conduzir a vida sob escolhas que não quisemos fazer, movidos por esse ideal angelical, de fugir de tudo que circunda o mais negativo das emoções.

 Aristóteles ensinou seu filho sobre justiça, sobre amor, sobre tanta coisa! E algo de muito valioso, também: o de viver as emoções no momento em que elas devem ser vividas. Não sofrer nos momentos que nos dão alegria, não reprimir a tristeza no momento em que ela deve ser sentida, e assim por diante. 

  E deixando de seguir o que cada emoção nos orienta a sentir, temendo o estigma do demônio que acompanha os pecados da nossa humanidade, o medo, a raiva, a tristeza, o remorso, estes não cessam a sua existência. Jung disse que cada emoção reprimida deixa seu estigma no comportamento, mesmo que de forma sigilosa. 

  E nisso resulta, talvez, nas explosões sentimentais que se dão após nós mesmos implantarmos várias minas no decorrer da vida. Mesmo as explosões devem ser respeitadas e analisadas. As explosões também nos alertam que talvez haja mais algum fio desencapado que exige prudência. Não tema a si ao ponto de se negligenciar.

 Foi o profeta de Gibran quem olhou para Orphalese e disse que o nosso pior não é mais baixo do que o mais baixo das atitudes da humanidade. Perceba: uma torre não é mais funda que mais alta, nosso pior é previsível e limitado, o nosso melhor, não. Podemos agir da melhor maneira nos piores contextos, improvisando uma melhoria que estava, até então, fora do baralho das possibilidades.

Conheça-te a ti mesmo: é a frase que estava há milhares de anos inscrita nos portões de Delphos, e o "ti" a ser conhecido envolve as piores emoções e seus limitados espectros. É por meio desse conhecimento que Sócrates caminhou pela busca da verdade. É o caminho aberto e desbravado por cada um que o queira o conhecer.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Felicidade genuína, bacon, Voltaire e labuta

  As pessoas buscam livros de autoajuda, mas não querem, de fato, ajuda. E geralmente esses livros não têm nada de autoajuda, mas de autofingimento: seja foda, como fingir ser confiante, fingir ser bom de oratória, fingir ser influente, fingir ser feliz - tudo por R$ 39,99. Mas assim como é perceptível para o bom observador a temperatura de uma cor numa pintura, é simples, para os olhos atentos, perceber as pessoas que estão fingindo esses valores das que realmente vivem esses valores.


  Se você busca aparentar valores com sucesso para alcançá-los genuinamente, o requisito mínimo é que você seja excelente ator, tipo vencedor de múltiplos Oscars, sabe? Um ator tão bom que seja hábil para encenar, para si mesmo, uma mentira. No entanto, se não dominas a arte desse teatro inalcançável, busque ajuda para realmente ser o que almeja. Toda busca por ajuda real é uma autoajuda. 

  Não conseguimos ser nada além do que já habita em nós. E o humano possui dentro de si uma enorme capacidade de bondade ou de maldade, de ferir, de curar, de ser feliz, como de não ser. A nossa natureza é também bondosa, agradável, cuidadosa, comunitária, mas nos esquecemos disso após tanto ouvirmos sobre a famosa "aptidão inata da humanidade para a crueldade, egoísmo e indiferença".

Venha cá, se o mundo fosse formado por essa vil comunidade de lobos humanos, penso se estaríamos na world wide web, com possibilidade de acessá-lá por muitos anos, com essa expectativa de vida aumentada... Sim, temos pessoas boas, observe as que você ama e que te amam, e observe também as  que mudaram a realidade humana para melhor.

 

 Aí você se pergunta, será que eu consigo me ajudar a ser melhor? Menos ruim? Menos tímido? Menos estressado? Menos ignorante? Se reparar bem, a felicidade é a finalidade última de todos esses quesitos. É claro que conseguimos melhorar e alcançar a felicidade. A condição é possuir os aparatos necessários para tanto, como cérebro, consciência, compreensão das suas limitações e uma força de vontade real para mudanças (no plural) que pode envolver a aceitação racional de alguma pílula.

  Com as ferramentas em mãos, entra a ação - daquela ação que sobrevive às intempéries. Aquela ação que envolve uma execução resiliente da melhora. E a execução resiliente da melhora só se dá com a execução resiliente da melhora. Esta frase pode parecer repetida e óbvia, mas quem vive a experiência humana sabe bem que, na prática, não pensamos assim. Pensamos que a resiliência é leve como uma pluma, feita de arco-íris, uma ponte naturalmente mágica entre a execução e a finalidade! Desconsideramos a necessidade do esforço e do uso da razão para a manutenção desse esforço, e cultivamos uma expectativa irreal de que a melhora cairá do céu após o primeiro mísero passo para fora da zona de conforto. Essa expectativa esperançosa pode até ser um bom almoço, mas é um mau jantar, como diria Francis Bacon.

 Não ficar idealizando que você será melhor num piscar de olhos, como nos filmes em que o vilão encontra a redenção após uma súbita empatia com relação ao mocinho, já é um bom começo. Isso porque espasmos de boas reações todos temos. Constância que é difícil! É difícil trabalhar em tantos valores e, portanto, é difícil ser feliz. E se tem algo essencialmente humano e útil na formação do nosso ser, essa é a Razão. É a razão que terá que ser usada quando os ânimos estiverem baixos e a jornada estiver te fazendo querer desistir. A felicidade é um estado de manutenção racional.

 Eu costumava pensar, e não devo estar sozinha nisso, que se felicidade fosse uma escolha ela deixava de ser genuína e, portanto, deixava de ser felicidade. Isso porque na infância, minha felicidade era assim, repentina! 

  Quando eu era criança, eu temia me tornar aquele tipo de adulto endurecido pela vida e pensava que manteria sempre meu estado de ânimo nas alturas serotoninérgicas. E eu também não precisava passar por metade dos dilemas morais que passo hoje. E a cada ano que passa é mais trabalhoso ser flexível e feliz.

 Depois que saímos da infância, a felicidade vem pela razão e cada vez mais com o passar dos anos e o baquear dos traumas. Perdemos o luxo dela vir sozinha, brotando de um cérebro não completamente desenvolvido e de uma vida inexperiente e envolta em magia. Buscar a felicidade, com os anos, vira uma tarefa muito prazerosa, porém difícil. A felicidade é um desses paradoxos que só a vida nos proporciona.

 Imagine só deixar de labutar pelo próprio sorriso e ceder aos inevitáveis conflitos, pressões de sociedades indiferentes a mim, a uma estética ilusória, modal? Imagine só deixar de ser feliz para aparentar felicidade tão somente para atender as expectativas alheias por um sorriso? Como Voltaire decidiu, eu decido, escolho ser feliz porque faz muito bem para a minha saúde.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Amores condenados

Nunca saia dos amores condenados

de coração quebrado e de mão vazia

O desamor nos dá em aprendizado

A tristeza que nos faz companhia

é sintoma de sabedoria.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Poetria XXIII

Depois de tanto adiar

e protelar o meu agir

Dei-me a chance do tentar

esforcei-me em tudo, tudo! E fugi

do meu instinto impaciente

E assim descobri: 

o meu melhor

não é bom o suficiente.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O ser de maior

 Para uma sociedade capitalista, amadurecer significa ganhar dinheiro o suficiente para sair da casa dos pais e gastar o salário num segundo núcleo econômico-familiar. Para essa sociedade que vivo, amadurecer e ser adulto são sinônimos. Quanto mais cifrões, mais adulto. Mais posses, mais responsabilidades, mais maduro! Mais filhos, mais humano! Mais sucesso, e o sucesso é sempre financeiro, mais feliz!

 O adulto é alguém que tem muitas responsabilidades. Nossa sociedade cobra muitas responsabilidades desde a infância, tanto sociais quanto financeiras, mas o adulto as têm mais e por mais tempo. Ele é uma consequência disso. Eles têm um acúmulo de muitos anos de muitas responsabilidades sociais e financeiras. É isso que faz com que os adultos sejam identificados como tal e também a razão pela qual sorriam pouco. Quando sorriem é com sarcasmo, note bem. 

  O adulto não tem mais alguns privilégios como a juventude, então possuem mais dores e também não sabem cuidar direito delas - até porque nunca foram ensinados a se cuidarem para além daquilo que traz ganho financeiro e, se não ganho, o status do ganho. E isso até nos meios mais cults. Percebe que a educação é tratada como uma ferramenta para o ganho financeiro? Um status? A educação não é tão mais interessante que os assuntos cotidianos entediantes que os adultos escolhem falar. Não possuem um só assunto que seja curioso ou divertido. Falam uns dos outros nessa arte nem tão sútil de controle moral e de comportamento alheio. "Olha como ela se veste". "E como ele se porta?". Se esboçam emoções sinceras, garanto, é porque o cortex pré-frontal foi desligado pelo álcool. 

  O adulto só ri de coisa de adulto, quando está sóbrio, não de bobeira. Ri aquela risada amargurada sobre aqueles assuntos entediantes da vida humana: louça acumulada, problemas no casamento, filhos e sobre como a cerveja gelada é boa. Tem a lista completa do que gosta e desgosta. E tudo que gosta deve ser liberado e tudo que desgosta, proibido. Sem meios-termos.

  O adulto só entende o que está acostumado a entender, nada de novo, porque aprender o que não se precisa dá fadiga. E eles estão sempre tão... tão fadigados! E isso tem suas implicações. Ele confunde - como só um adulto pode confundir - a felicidade com o alívio. O alívio da conta que foi paga, do filho que dormiu, da companheira que está de bom humor (ou pelo menos calada, sem encher sua paciência). Sente o alívio do dia acabado, da semana que passou, da aposentadoria que se aproxima. Só pensa na morte quando está suicida, nada além.

 O adulto é mais invejoso, mais triste, mais estressado. Não se impressiona com nada que não lhe forneça uma ostentação financeira. Porque é o financeiro o status, o símbolo, o marco da maturidade moderna. As chamas do iluminismo educacional apagadas dentro de sua alma, o que resta é uma luz led numa vida maquinal. São tudo o que foram treinados para serem desde a infância, com o acréscimo daquelas rugas ali, cabelos brancos acolá. 

  Ser adulto é ser humano infeliz completo, até que a morte o separe. Cruzes!

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Poetria XXII

O meu amor é deitar ao teu lado, 

numa noite escura, 

e contemplar estrelas...

na retina tua.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Eu ia dizendo

Esse gosto de sal...

Engulo a saliva grossa

o ar de tocar as cordas vocais não toca

Não sai palavra, o ar dá volta, 

retorna, a expiração se agiganta

O silêncio esbarra no dente, tranco o lábio

Só ouço o nó na garganta.



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

NADA ACOTECE FEIJOADA

 


Enquanto o ar condicionado faz efeito, enquanto o sono não vem, nessa noite quente de inverno, deito os dedos nas teclas, apago, reescrevo e eis o motivo: não tenho qualquer coisa a dizer. Coisa nenhuma. Só uns pensamentos cansados.

 A vida dos poetas é animada? A vida dos escritores, dos artistas, dos pintores? Sim. Creio que sim. Eles vivem! E é a vida acontecendo com eles, essa que perpassa seus crânios, tira deles toda boa arte e poesia. A arte é a vida expressada. Mesmo a arte ruim e a má poesia são a vida... Acho que a vida perpassa até mesmo os artistas ruins, buscando uma forma de se expressar. A culpa não é da vida, mas do crânio do artista que não funciona direito e passa uma vida que se expressa desajeitada, cheia de plágios, erros gramaticais, imitações, remixes. Às vezes a vida quer se expressar num artista que está com as mãos muito ocupadas e o labor tira o lápis das mãos. Mas o pulso da arte pulsa, pulsa, pulsa no pulso, nas mãos, nos dedos, na vida do artista.


 Essa vida não anda acontecendo direito comigo e a culpa é minha, que estou enclausurada. Meu crânio anda sobrecarregado, não tem espaço para a arte, só para o cansaço. O pensamento está cronometrado e minhas mãos sempre, sempre, sempre ocupadas. Daí não sai nada de arte. Nem boa, nem ruim. Nada. Não deixo a vida acontecer comigo e não aconteço com ela. Por isso não entendo qual o meu impulso de escrever. Também não entendo meu pulso de viver, de pensar ou de ocupar minhas mãos. Mesmo assim eu vivo do jeito que dá, penso no que posso, quando consigo e deixo as mãos calejadas. Ocasionalmente, sai alguma arte - arte cronicamente má. Mas arte.


 A parte boa da arte má é que ninguém se importa, ninguém entende. Ela sai porque deve sair e sai com as palavras que o artista conhece, com seus vícios de linguagem, com a estrutura que intuitivamente entranharam na escola primária. Com quantas artes se faz um artista? Uma só? Só se for boa?

 E cá estou. Sem ter o que dizer, dizendo nada, fazendo arte.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Rabisco

O ar quer sair dos pulmões 

passar livre pela boca aos rojões

Essas cordas vocais sequer tremulam

Se obsta o som na língua e seguram


Cerra seu nome em meus dentes

prendem seu timbre em meus lábios

Mas as belas curvas! A grafia!

Tremulam vivas no vocabulário


Esse espaços entre as letras

do lápis brincam feito cirandeiras

suas vogais... suas consoantes

se reescrevem - nunca como antes


Esses rabiscos atentos

Apago, camuflo, não somem

os retornos e cruzamentos

que formam seu nome.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Poetria XXI

 Apesar do tempo

dos contratempos

das quedas

percalços

dos tropeços

das feridas

de perder teus passos

Apesar dos desencontros

da despedida perdida

do teu olhar vago

O amor dá nó

O amor faz laço.


<3

terça-feira, 18 de julho de 2023

Poetry III

I see my love all day

Since when I wake up

Through the night's fate

Even if the sun BLOWS!

I see my love when it blossoms

In the streets... when I saw some

Even when grass grows

In the cold wind that flows

I see my love in the sky. Oh, it glows!

Between the fluffy clouds

In the stars that shine before the day goes


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Esquecimento


Como esquecer a fragrância das rosas
a delícia e o sabor dos temperos
a sensação da brisa leve levando teus cabelos?

Como esquecer a saciedade quando se está sedento?
Como esquecer a fome quando se está faminto?
Como esquecer o sorriso na dor que revira os instintos?

No concreto, na sala, um botão se abre em flor
Do fogaréu, inunda o cheiro das especiarias
O vento se espicha, move os cabelos da tua cor.

A gota da chuva, do céu aos meus lábios, que pontaria!
A fragrância é o convite do sabor
O sorriso desabrocha - e de amor.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Poetria XX

Nem ler, nem escrever! 

Dane-se o poema. À poesia!

Dane-se o aplaudir, o aprender

o melodrama, a cantoria

o dançar exausto

os altos e baixos da fantasia.

Mas é que esse tédio de viver,

prolonga a sina.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Histriônica

Meus pés descalços
tecem o piso
em teu encalço 

Os dedos, precisos
aquecem o rastro
abrasam, febris

Sublimes! Hubris!
Histriônica! Κακία!
Deliciosa hedonia!

O caminho é longo
o caminhar devasso
Posterga mais teu olhar em meu passo.

domingo, 14 de maio de 2023

Sobre uma trend

  A internet é cheia de trends, adoro seguir algumas, outras não, como qualquer pessoa. Uma em particular me atraiu e me fez refletir, a trend consiste em contar aos outros sobre com quem aprendemos algo. E aqui vai (com algumas omissões imperdoáveis):

 Aprendi a sambar com a minha bisavó, a Mama, e ainda sambo assim. Ela também me ensinou a pentear os cabelos e como posicionar meus braços à mesa. Com a minha vó Iolanda, aprendi que ser diferentona é legal - ela também me ensinou um pouco sobre signos. Com ela aprendi que sou de escorpião. 

  Aprendi com a minha vó Marlene a ser bem humorada, a passar batom vermelho e a fazer um brigadeiro rápido e delicioso. Aprendi com a minha mãe a ser justa, a ter um pouco de modéstia e também a fazer bolo de chocolate. Com o meu pai, aprendi a nadar, superar o medo de altura e a andar de skate, patins e bicicleta - e não faz muito tempo que ele me ensinou a trocar as marchas no mountainbike para pedalar em terrenos específicos. 

   Com a minha tia Vivian, aprendi que ler é legal e ela também me mostrou como fazer nuggets e a gostar de torrada com requeijão. Minha tia Melina não me ensinou algo diretamente, mas indiretamente, ensinou-me a ser independente e a gostar de Alanis Morissette, Shakira e Jota Quest.

  Aprendi com o meu vô Zezé a caçar minhocas e um pouco de pescaria. Ensinou-me a amassar o arroz com feijão para deixar a comida divertida. Com meu vô Elson, que é quieto, aprendi que pintas podem nascer na testa. Ele tem uma que eu achava que era um botão. Nunca a apertei. E aprendi com ele que a gente pode ser amado, mesmo no silêncio.

  Na minha família, sinceramente, não tem muita gente com paciência para "ensinar", mas se não conseguiam, ao menos financiavam para que eu conseguisse aprender com algum profissional. Eu tive o financiamento de aprender a selar e montar cavalo (meu vô Zezé), de fazer aulas de balé (bisavó, depois minha mãe, depois meu vô), de fazer sapateado e dança de salão, de fazer aulas particulares de matemática e a estudar o ensino médio em colégio particular. Peguei esse jeito de aprender com profissionais. Uso o balé como base para dançar qualquer coisa. Danço sozinha quando estou feliz até hoje porque foi a "tia" Lúri que me fez amar o pas de bourrée.

    Aprendi a esfumar os meus desenhos com uma professora de artes que desenhava bastante bem. A gostar de escrever com a professora Ivonete, a amar literatura com a professora Sandra. E foi devido ao reconhecimento de um professor da escola que me meti a aprender inglês. Yeah, that's right!

   Aprendi como ser mais atraente com minha amiga de infância Ariana. Ela, mesmo dois anos mais nova, ensinou a me portar com os garotos. Aprendi a como me maquiar e pintar as unhas com a Bia, e a arrumar meus cabelos com a irmã dela. Aprendi sobre o que é "namoro" com o Tar. Com a minha amiga Bruna, soube o que era uma amizade de grande intimidade. O nosso florescimento adolescente foi muito especial! Aprendi a não ter vergonha de pensar diferente com o Alexandre, que desde jovem defendia seu ponto de vista. E a ser uma namorada, com ele, também. 

   Também aprendi uma pancada de coisas ao observar as pessoas errando. Uns erros, evitei, outros repeti. E alguns erros, com o tempo, notei que nem erros eram. Não há nome para certas situações, não há bem ou mal. Nem tudo é tão preto e branco. Os extremos sequer existem?!

  Quando mais velha, achando que já tinha aprendido de tudo, aí então que aprendi a expandir a minha empatia, foi quando encontrei com minha amiga Bia, outra Bia, uma compatível com a minha vida adulta. Fui ensinada a ter mais organização com a Laura, a ter mais disciplina com a Fer. A ser mais clara e objetiva, a ter mais autoestima e autodisciplina com elas. Elas sabem o quanto progredi! Nesse meio tempo venho aprendendo muito, muito, sobre o amor, algo que não cabe nesse texto, não cabe em texto algum, na verdade. Aprendi mais sobre a saudade, sobre como se compensa a tristeza com a alegria. Que grandes agruras acompanham deleites tão grandes quanto. Que apesar dos dissabores e dos finais, tudo tem um início para se começar e um meio para se apreciar. Aprendi a não esperar demais dos milagres, como antes fazia, mas a me contentar com eles. Não cabe aqui, também, os grandes autores, artistas, filósofos, que sequer sabem que eu existo, ou o quanto me ensinaram e ensinam.

  E quando penso no que aprendi, penso no quanto tenho a aprender, e como o aprendizado faz com que eu me sinta humana, feliz, um grão que com tantos outros grãos formam a terra, uma parte do que chamam humanidade.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Poetria XIX

Mais uma vez 

          a escrever 

     os trilhos 

        do poema 

      que  

         me levam 

a viver.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Poetria XVIII

Deixa-me mais de teus indícios
tudo em que tocaste é solo sagrado
inclusive a mim e a meus vícios
em teus desejos encarcerados
são teus os lugares que ninguém mais tocará

Autotomia, meu bem, a capacidade de se despedaçar
de perder, perder-se e se regenerar
Vá, deixe tua faceta de fora
e solta em mim teu instinto

Não responda tão rápido o que sinto
num caleidoscópio, somos muitos nós
e todos nós, mil labirintos

E se teus dedos os alcançassem todos, embriagados de absinto!
Meus fluidos, nossas águas, teus líquidos
além da idiossincrasia e da fabulação
além da tua pele faminta, alimentada
das tentações de um deserto que te finges são.

É tudo tão simples, tão vão!
Um crime de quatro mãos
Saciemos a fome da tua gana
Mate tua sede em minha cama
que é um atar de nó que não ata
Matemos a saudade
enquanto a saudade nos mata.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

λ

Viva! Viva! Um brinde às coisas não faladas!

Veja, não se cortam as palavras

Nem que se afie muito... muito sua espada

Do punhal, não gaste as punhaladas


Lança-se a rede lá, bem longe da jangada

Ingênuo se pensas só na pescada!

A sorte (única): agarrar a rede lançada

O certo destino é perdê-la dentre as águas


E por mais que mergulhe, estará despedaçada

Não... não pelos cortes - pela própria água!

Dissolvida, entrelaçada, pelos ares evaporada.


Brigará com os ares com uma lâmina?

Não lance redes com suas mãos lânguidas

sem medir as ondas como lambda.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

O que sou?

  Cá, nesta primeira linha, notável que não sou poema. Não quero me distribuir em estrofes, nem desejo me fazer rimas. E daqui não sai uma torta letra de poesia. Ponto! Quero passar uma mensagem. Mas, Deus, livre-me de ser científico! Não tenho nada muito lógico aqui para apresentar. São textos de regras inúmeras e leitura entediante! Não, não e não! Preciso me testar... ou "textar"? Hehe... "TEXTar", percebeu? Hehe, definitivamente, não sou de comédia. Isso, pode riscar.

  Agora falo sério, talvez seja eu algo moderno de poesia, não posso ficar de má vontade, preciso me testar e me descobrir, antes do fim...

...

da 

linha

Oh! Linha do fim

que sentencia e alinha

dando ao texto o bom fim

feito o cristão


  Retorno à minha forma, não... não sou rima, tomo a contramão:

[1,5cm] A amostra acima transcrita, trata-se da confirmação de que há formas melhores de expressão - ao contrário do que se vê neste exato parágrafo. O N amostral confirma que um alto percentual de leitores prefere compreender a mensagem. Para que o leitor acesse o conteúdo com qualidade, é preciso que a obra textual tenha início, meio e... blá, blá, blá, o leitor morrerá num porre, muito chato. Não. 

  EXTRA! EXTRA! Este texto pode ser de jornal! - "Pode", não, que "pode" dá margem demais à interpretação. E jornal é definitivo. É DE JORNAL! É texto de jornal! Não de jornaleco, nem de jornalzinho, mas de Jornal com J maiúsculo! Imbatível no quesito atrair o leitor! Polêmico! Curto! Rápido! Fácil! Um pouco indigesto. E só metade da metade da metade da informação! É... Também não... não gosto muito de confusão. Preciso antes é eleger um conteúdo, para então contá-lo. Seria mais legal se fosse uma história de ficção, sabe? Rascunho o que quero e depois encontro minha forma e digo o que sou...

  Uma história de terror. Chove lá fora. As garras da escuridão encobrem tua vista. A madeira range embaixo dos teus pés, não estás sozinho. Sinta a presença que se posta ao teu lado. Ela pousa os dedos disformes em teu ombro. Tua boca se enche do fel do teu sangue e teus cabelos tremulam com o sopro frio da tua morte... Hum... melhor não.

  Grandes amores e longas viagens! Algo mais leve, algo de época. Um grande amor que supera as fronteiras da redação nasce: um leitor medieval se apaixona por este texto!... Hum... Talvez... Ah! Melhor: Naves alienígenas invadindo a terra - os leitores gostam da ação - os seres tocam nossas mentes com suas mensagens de paz, e iludidos, como na flauta que encanta ratos, os homens são somente carne no abatedouro do cosmos! Ou, ainda, algo político, que engaje, que mude o mundo! Algo que se passa nas terras tropicais latinas, envolvida no cantar dos povos pela liberdade, os rebeldes heroicos pegam em armas e libertam as almas famintas das amarras dos canalhas fascistas que monopolizaram o poder. É um tema espinhoso, pesado, poderia ser algo que agradasse às criancinhas e suas grandiosas mentes em suas cabecinhas. Uma história sobre dragões mágicos que, mesmo com suas espinhas, dormem juntinhos para manterem aquecidos os fogareiros de seus corações, e daí que sai o poder de seus fogos!

  Um texto bom não precisaria explicar a que veio. O leitor já saberia do começo à conclusão... Este texto...este texto. Este. Texto. Hum... EUREKA... já sei! Esse texto é uma bagunça.


segunda-feira, 17 de abril de 2023

1, 2, 3... Textando

Em toda folha branca ou canto livre

aonde cabem versos, os versos livres são você

e eu - e alguma esperança.

E esses sentimentos solitários vem e vão

como as ondas embriagas nas areias - e verão

escorrendo dos meus dedos num traçado de poesia herege

que não encanta, desencanta, rasgo-me e tudo se perde

diverge, converge, e retoma a iniciação

E tudo... tudo isso, pois, não há, repito, não há

como te descrever sem a lírica da fantasia, dos superlativos

das grandes frases sentimentais

Não há nada neles que não seja arte, que não me parte

e dos pedaços que reparte me refaz 

e os escrevendo, vou-me obedecendo

aos comandos da emoção antiga

e a cada linha escrita apaga mais nossa distância

e a nossa morta infância torna à vida!

E a escrita aflita. Aflita me sai cambaleando

entre as cifras imaginadas e apagadas

numa sem luz, numa imensidão

e então te deixo, 

deixo entrar em mim um lumiar

da tua graça

E de pirraça entras em mim como os passos da dança

que iniciam no salão

e queria eu poder ter os porquês e o domínio de todas as palavras

dos travessões, das vírgulas, das reticências e aspas!

Vai que passa... vai que passa

o teu turbilhão.

quarta-feira, 22 de março de 2023

Poetry II

There it is! There is

A place you hardly look,

hardly question, so grand, so deep

The more you look, the more you see

Huge! It roars and bleeds

Even so, you hide it and... bleep!

You diminish it, infantilize it

Can only hide, could never seek

But it's an adult, about your size

Confronting your denying eye

The fear you feel of you!

To be truthful, to not lie

To endure the gaze upon

To stand still a while, to bear the song

Of you voice about your soul

Face it! And dwell!

Acknowlege: it's not so well

You laugh still, at a childish play

You so fine, you'll never say

Look, a butterfly - then look away

It doesn't matter, how much you pray 

How many paths you can creat

trying to compensate 

You and yourself can't part ways.

terça-feira, 21 de março de 2023

Poetria XVII

 Se sou digna de alguma nota, essa nota é dó

O coração injuriado já não aguenta ficar só

Quer amor e carinho diferente do de avó

Bate sedentário, num saudosismo que ó...

Subsidiariamente

Queria que me amasse tanto, tanto!

Ou que me amasse de volta

Então, que me amasse

Ao menos... gostasse

Que se atraísse. Só se atraísse?

Que não desgostasse

Que tolerasse...

Que somente olhasse!

Que lembrasse

Que não se esqueça, não se esqueça de mim.

sexta-feira, 17 de março de 2023

Poetry I

In the blurred lines

Even for a minute of a time

by the end of a night

Oh! I would gladly be alive

in the ashtray of your life

terça-feira, 14 de março de 2023

Respeite!

Respeite, que as ruas são dos carros

e as calçadas dos calçados

que não tem carros a dirigir


Respeite, que os dias são do silêncio

as palavras do apartamento

os gritos do patrão que é pra se ouvir!


Respeite que as modas são das vitrines

que as roupas são indumentos

desgastados do trabalho para ir e vir


Respeite, as músicas tem compostura

altas só para quem tem cultura

baixas nos ouvidos dos servis


Respeite, que o público é privado

e o dançar só se é autorizado

à vista, num cercado sem lamaçal 


Respeite, a folia é o habitual

só se pula no acolchoado 

Aqui não tem carnaval!



quarta-feira, 8 de março de 2023

A dor

Aceito a dor, sim, completamente

totalmente - em sua maior escala

Quando havê-la é o caos inevitável

abraço-a, plenamente, de corpo e alma


Permito-me a ela torturar e sofrer

sem a ninguém culpar ou devolver

o sofrimento que me destroça e arrasa

qual ela, ingênua, sempre, sempre causa


Ela enforca. Enforca! Cura, depois para

Deixa a sua marca - e não por desleixada

é onde a sua potência esgota, é ali validada


Impetuosa, indolente e consistente: após a dor tudo sara

O tormento tem seu momento, termina, aí ampara

Entrego todo meu sentimento, sem reavê-la, quando se acaba

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Poetria XVI

Sempre soube que você era imaginado

se não era antes, o é agora

pois o passado desenrola

e teu rastro foi apagado

deixando-me só memória


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Quanto tempo dura a saudade?

Quanto tempo dura a saudade?

Pouco: Uma vida inteira

E o trabalho árduo e leve

Nessa vida passageira

É deixar saudade onde se deve

Um pouco de si no outro

E tudo de si, de brincadeira

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Poetria XV

A tristeza é triste sozinha

Chora o choro na solidão

E o colo que te apazígua

é da tristeza irmão


A raiva é raiva sozinha

enfurece solitária

E a voz que te acalma

é da raiva adversária


O amor, que é compartilhado,

decola do peito, é alado!

Se faz bem desacompanhado

Melhor, é ao teu lado





terça-feira, 31 de janeiro de 2023

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

(Re)desencontros

 Naquele dia ensolarado e frio era você, não era? Um dia quente e gelado. Era você, sim. Era você olhando para mim. Era você virando a esquina, notando-me e olhando para trás, não era? Sim, era, sim, eu sei que era. Senti você ali e me alegrei bastante. Achei que iria me magoar ao te rever. Achei que ficaria com a feição triste ao te reencontrar. Que sentiria frustração ou tristeza, ou raiva. 

 Sabe o que me aconteceu ao ter sua presença por poucos segundos? Meu peito se encheu é de alegria. Inflou-me um sorriso bobo que ficou colado na minha cara. O tempo é cálido! A vida é boa! Cumprimentei as nuvens! Por uns bons dez minutos só pensei em felicidade. Aí eu notei algo importante... Você não me faz triste - e nunca fez.

  Você me faz feliz. A sua presença, como diz o poeta, entra pelos sete buracos da minha cabeça. A esvazia dos tempos ruins. Renova meu coração. Sinto um fôlego totalmente novo com uma pequena dose dela. Ao contrário, sua ausência é que me dói profundamente. É seu não estar, é a esquina da rua vazia, a mensagem não enviada, a carta não lida, as memórias rasgadas e jogadas no lixo. É a voz de outros tomando os decibéis da sua voz. É você, de costas, partindo. São as pegadas da sua existência e não seus passos. É saudade... é saudade.