quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Zero à esquerda

Sinédoque. Da parte se vê o todo.

Boca, mãos, olhos, rosto

Multiplica, una e repare!


É soma que se reparte

É cálculo que não calcula

Que disparate!


A conta nunca bate

Toda fração é imprecisa

Altera, divide, não simplifica


Exatidão inexata

Junção de vetores

Resultam em nada!





sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Covardes

Que as circunstâncias nos unisse

Que não cruzássemos a coragem!

Assim amamos feito loucos

num romance de covardes.

Puerpério

Há um secreto dentro de si. 
A nascente dos sentimentos íntimos demais. 
De cordão umbilical invertido. 
Acolhidos presos no útero do que não falais.


Frágeis como aço em temperatura crítica.
Disformes puxam as cordas detrás das cortinas
Creem-se, desde a concepção, gestados. 
Contraem-se ritmados. Prendem-se nas próprias cordas tecidas. 


Não sabem nascer. E nunca se dá à luz por completo. 
Nunca se os arranca da carne sem severa amputação. 
E o que se pare é muito pouco do que são. 


Da língua ao céu, da boca aos lábios. Exagerados de menos, interrompidos. 
Caluniam aos ouvidos. Nos expõe fracos, sem placenta na mão. 
Puerpério de nada, natimortos que são.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Poetria XIII

Nada. Coisa alguma. Tudo é vazio.

A porta bate, o chão range

Ninguém olha, ninguém riu.



segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Poetria XII

Teus braços em mim, no meu rosto, eu em teus braços,

nós em um nó, 

atando os nós desatados

domingo, 11 de dezembro de 2022

Poetria XI

Te amo sem ponto final

te amo sem vírgula

te amo sem traço

sem língua

sem regra

Te amo além da ortografia

da geografia

da geometria

te amo além do poema

- que termina.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Lápis-lazúli

Aos gregos brilhava o céu num rosado
Homero, ao pé d'água encostado:
É cor de vinho este mar!

Até então, olhos viam sem notar
Escondida à plena vista
Tão bela cor desabrochar

Mira! Atrás das nuvens!
Em diversos tons pra maravilhar
Atente teu enxergar:

Azul é o céu!
Azul é o mar!
Azul do menino da barriga a brotar

Azul da cor da Barba de um nobre violento
Da veste dos ricos nos reinos
Das divindades nos templos

Azul do ponto pálido no Universo a flutuar
Azul da calmaria: hipnotiza o descansar
Azul do amor, que veio visitar

Azul dos teus olhos a me olhar
Do cano alto do teu all star
Azul, o que senti ao me deixar.