Certo dia despertei
despertei com outros olhos
o real é ilusório
agora, nada sei
Tudo é transitório
os instintos se revoltam
Da vida tive ódio
só a morte é real
Espetáculo fantasmagórico
Sem aplausos ao final
Inicia com a sina
ao nascer já se termina
um suspiro fatal
Aqui jaz o material
da qual se fez meus olhos
Jaz meu peito de animal
a vida é sonho irreal
Imergi em loucura
as coisas finitas - a fissura
Mortas enquanto paridas
no grande esquema frugal
Circulei espectro entre os espectros, em carne
nada realmente dói, nada realmente arde
Eis que o medo me invade!
No pânico o pensar imerso
na mera poeira do Universo
O céu me assusta - não o impeço
As estrelas me ofendem em seu infinito
Me doem na pele, resta o grito
Encarando a morte
quase não a sobrevivo!
Cansei-me... cansei do perigo
Troquei minhas lentes e achei abrigo
O que sinto é real, apesar de finito
A carne que arde é onde me exprimo
Eu sou! Eu vivo! Ao choro e riso!
Há amor, há pranto e sigo
Embalando no berço do abismo.
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