domingo, 6 de novembro de 2022

No berço do abismo

 Certo dia despertei

despertei com outros olhos

o real é ilusório

agora, nada sei


Tudo é transitório

os instintos se revoltam


Da vida tive ódio

só a morte é real

Espetáculo fantasmagórico 

Sem aplausos ao final


Inicia com a sina

ao nascer já se termina

um suspiro fatal


Aqui jaz o material

da qual se fez meus olhos

Jaz meu peito de animal

a vida é sonho irreal


Imergi em loucura

as coisas finitas - a fissura

Mortas enquanto paridas

no grande esquema frugal


Circulei espectro entre os espectros, em carne

nada realmente dói, nada realmente arde

Eis que o medo me invade!


No pânico o pensar imerso

na mera poeira do Universo

O céu me assusta - não o impeço


As estrelas me ofendem em seu infinito

Me doem na pele, resta o grito

Encarando a morte

quase não a sobrevivo!


Cansei-me... cansei do perigo

Troquei minhas lentes e achei abrigo

O que sinto é real, apesar de finito


A carne que arde é onde me exprimo

Eu sou! Eu vivo! Ao choro e riso!

Há amor, há pranto e sigo

Embalando no berço do abismo.