terça-feira, 30 de agosto de 2022

Mananciais

Eu rio,

você lago


Desaguo,

Você transborda


Minha correnteza 

É sua lentidão


Feitos da mesma água

Não se reencontrarão.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Kénosis

Nasceu a carne!
Ao berro e choro
ao medo e pranto
do gás ao fogo

Colisão de estrelas:
Fez-se ouro
Carbono e olhos
e veja o estouro!

Incenso e mirra
Ornado aos louros
Tudo é novo

Tão novo!

E demovo!

O que fez ser si
e que te fez tesouro
Tenha fé! Removo

A ti, estrovo:

Carbono e olhos
o pranto e o choro
O gás concedo -
Mas não o fogo!

Dissenso e birra
retiro o louro
Da casca ao ovo

Ato linha ao anzol

Teu destino em meu farol
Forte luz
Cega fé - só a Mim em prol!

E tema
a ira suprema!
De um ódio chamado amor
Cante em louvor

Agora!
O mar te espera
Revigora

Curve-se
Não demora!
E rema
Rema!

Ao precipício 
do Meu poema.

sábado, 6 de agosto de 2022

Cadabra!


Desenho inspirado neste poem

Desde jovem, muito jovem

Aos montes me tolhem

Deixo. Que olhem!


Cresci feia - ora, pois, ris!

Nariz torto de chafariz

Verruga na ponta e adorno de cicatriz


E cresci com tudo

Trajei chapéu pontudo

Teci-me de preto - escudo


Deram-me vassoura "Para o chão!"

Ao cão!

Transformei-a em aviação

Sobrevoei seu espantado coração


Da fogueira a qual fui amarrada

E era quente feito vulcão

Escapei com esforço de nada

Colhi a madeira - lenha pro caldeirão


Do espanto e do ódio

Olho de sapo, lasca de ródio

E de cima do pódio, bebi com limão


Em minha cabana isolada

És doce, morada!

A escória da população


Importo-me? Pouco

Converso com corvos!

Têm melhor oração


E passeio entre a floresta

Aventuro-me em suas frestas

Leio meus feitiços

Meus amigos esquisitos


Marco as folhas com minhas unhas compridas

Afio nas cortinas!

Meus cabelos já brancos

E todos em bando:


Às crianças perdidas, ofereço doces

À bela jovem, um tear

E a maçã que envenenaram

Puseram-me a tudo culpar!


Afundo na floresta

"Nunca a vimos" - o povo em festa

Mas me veem nas frestas

De suas morais avessas


De suas culpas quietas

realizadas às pressas

Em oportunas surdinas

Afio minhas unhas em suas cortinas