segunda-feira, 11 de julho de 2022

Roda mundo

 Talvez eu tivesse ficado naquele ciclo de frivolidades para sempre se não acordasse à tempo. Talvez o tivesse engrandecido, giro a giro, em minhas entranhas. E não saberia mais dizer a diferença entre o que é sujo e o que é limpo. Mas, acaso não tivesse nele entrado, talvez deixaria de saber que há sujeiras limpas e limpezas sujas. Que não há pureza além do mundo das ideias, nem maldade pura, além dos nossos medos abstratos. Tudo é contaminado de uma coisa ou de outra, a depender do ponto de vista. Que no grande esquema das coisas, esses termos dão conta de misturar-se, sendo água e óleo. A realidade é tão mais além, é tão mais compostas de verdades menores! É um quebra cabeças que só se sabe a forma quando se está montado, mas ao mesmo tempo não se exclui de seu corpo as peças montadas e as peças faltante.

Também não teria aprendido que quebrar um ciclo, não significa libertar-se de cair em outros. 

 Existir é paradoxal. 


  Sinto pena dos que almejam a pureza. É um ciclo de autoflagelo, que na busca da paz e da perfeição, fere violentamente a carne e despedaça o espírito. 

  Cada giro, uma nova e mais profunda cicatriz. Em cada cicatriz, um novo ferimento. 


 É o ciclo que se torna tão autodestrutivo quanto ciclos objetivamente autodestrutivos.

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