Não costumava sentir lá muita coisa. Olhando aqui à distância, não... não percebia nada. Não percebo o que sinto até que algo grandioso me sacuda e me faça compreender, num salto, o quanto algo importa. É como se meus sentimentos fossem a caixa preta de uma avião e quando os reconheço, já é tarde demais. Ao invés de aterrissar, caí de amores. Uma queda livre, assustadora e embriagante. Sem paraquedas ou pensamentos de segurança. Estatelada no chão, ainda me sentia acomodada nas macias nuvens. Tão bom é amor! Agora, repetindo-se a história, sofrerei um novo impacto. Sei disso. E dos grandes! Como um raio solitário, que é acompanhado pelo estrondo, na distância de sua magnitude! Explico: Veio essa grande tempestade. Com ela, um show de raios iluminou o céu. Azul! Rosa! Branco! E então tanto vento! Foram todas as estruturas carregadas pelos ares, num turbilhão de mesas, cadeiras, janelas, metáforas e portas. No entanto, prossigo aqui, entrando na sala inexistente, apoiando os pés na acomodação inexistente, como se tudo prosseguisse no lugar. Quando o estrondo finalmente me acordar do devaneio apático, o que restará de mim? Tento muitas vezes adiantar o processo. Não adianta. Espremo os olhos com o fim de deles saírem água. Não saem. Então penso longamente sobre tudo. Os pensamentos são incessantes, porém desacompanhados do sentir. Os pensamentos são os raios? Os fatos são os raios? O sentir é o estrondo. Me é a única certeza de ser ele o estrondo. E por isso, tempestades silenciosas me assustam.
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