sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Sinais

 Seus olhos são tão belos! Mas estão cegos. Quando olham em minha direção, me reparam com uma contida raiva. É contida, mas percebo pelas sobrancelhas, pela sua visão nebulosa, inanimada, que não olham para fora, mas para dentro, onde habita uma eu, talvez criada à sua imagem e semelhança. 

 E quando sua boca se abre para me responder, com relutância, os sons saem reprimidos. Os dentes cerrados importam numa acústica abafada. A escolha das palavras tendem às mais ríspidas. Há, entre seus lábios, um hálito particular, que cheira à ódio. 

 O silêncio não é menos pior. O silêncio é gélido, incômodo, como uma placa de alerta para que me afaste.

 Há em seu corpo, muitos sinais de perigo. Há em mim, o impulso de arriscar. 

 E me arrisco. 

 Sempre me arrisco.

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