quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Poetria IV

Gota à gota
Desnuda-se o céu das nuvens
Finas facas, incontáveis

Delicadamente 
o grosseiro vento
se dissipa

Calmo silêncio

Aí resfria

Na pele,
o pelo arrepia

O grande estrondo:
- É tempestade!

Brilha a noite
E se pinta:
Azul, branco 
Lilás
e rosa

O revolto revolta
E molha

Se desfaz, 
refaz
E nunca cessa

Mas cessa.

O sol cresce e se espicha 
Perpassa as frestas 
Que alegria!

terça-feira, 9 de novembro de 2021

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Sinais

 Seus olhos são tão belos! Mas estão cegos. Quando olham em minha direção, me reparam com uma contida raiva. É contida, mas percebo pelas sobrancelhas, pela sua visão nebulosa, inanimada, que não olham para fora, mas para dentro, onde habita uma eu, talvez criada à sua imagem e semelhança. 

 E quando sua boca se abre para me responder, com relutância, os sons saem reprimidos. Os dentes cerrados importam numa acústica abafada. A escolha das palavras tendem às mais ríspidas. Há, entre seus lábios, um hálito particular, que cheira à ódio. 

 O silêncio não é menos pior. O silêncio é gélido, incômodo, como uma placa de alerta para que me afaste.

 Há em seu corpo, muitos sinais de perigo. Há em mim, o impulso de arriscar. 

 E me arrisco. 

 Sempre me arrisco.