Todo aquele que sorri está alegre, quem chora está triste, quem franze o cenho está nervoso. Tão simples. Quando são os outros, tudo é simples, e dessa forma simples fomos ensinados a compreendê-los e assim, simples, tornaram-se em nossas perspectivas. Usamos esse conhecimento como máscaras, e reconhecemos nos outros essas máscaras como sendo suas reais facetas... mas é tão fácil manipular nossas máscaras no cotidiano, e parece tão fácil que os outros a manipulem, também!
Nunca se saberá, com certeza, mesmo que se observando com todo cuidado, se o sorriso esconde uma tristeza, se a tristeza esconde uma raiva ou mesmo se há um misto vultuoso de sensações ocorrendo por detrás de um olhar indiferente.
Mesmo que se acerte o sentir, ainda assim não se saberá a real proporção daquele sentir no outro, e de modo contrário, o outro não saberá a real proporção do sentir em quem o observa. Não há coisa mais íntima que o sentir, portanto. O sentir tem uma restrição ao mundo exterior, é algo que ninguém além do próprio ser pode conhecer. Pode-se encontrar as justificativas para as gamas de emoções, mas nunca será possível tocá-las.
Por óbvio, conseguimos comunicar aos outros que estamos felizes, tristes ou doloridos, mas somente nós sentimos a felicidade, a tristeza e a dor. Os outros as dosarão às suas maneiras. Ainda, note que as palavras estão limitadas às regras externas, a um certo padrão universal de como funcionam os sentimentos. O machucado dói, o beijo dá prazer, despedir-se também dói, e amar também gera prazer. O ralar de um joelho é tão distinto de uma despedida, e o beijo é tão distinto do amor - e ainda assim a primeira distinção se trata de dor, enquanto a segunda se trata de prazer. Todas sensações são complexas e distintas em seus âmagos, ao passo que se coincidem nas palavras e consequentemente na nossa percepção com relação ao outro. Curioso é o âmago pessoal de cada palavra que expressa um sentir.
Talvez a felicidade machuque o outro, e pode-se encontrar justificativas para uma sensação tão dicotômica quanto essa, mas o quanto ela alegra e o quanto ela fere, é algo que é sentido apenas e tão somente por quem se alegra e se machuca, ao mesmo tempo.
Há raros momentos em que se sente uma conexão com o outro, de modo que as emoções parecem fluir entre si, como se fosse o existir indivisível. Chamam de empatia, e sente-se a empatia. Envolvem-se dois em uma só gargalhada ou um só choro, num momento em que humores aparentemente se tornam uníssonos em sentimento e proporção. Mas a empatia nada mais é que uma sensação, nada mais é que um sentir individual. Cada qual sente o que é de si e nunca o que é do outro.
As sensações íntimas são uma linguagem que não tem real tradução. E é isso que nos faz únicos, e é isso que nos faz tão solitários. Sempre sozinhos, dentro de si.