segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Vagueza

 O momento passa, e nenhum que o segue se assemelha ao anterior, e assim por diante. Quantas vezes já falei sobre isso? Muitíssimas. Falo muito do óbvio. 

                                          Repito. 

Volto. 

                     Reanaliso. 

  Aqueles pedaços da história, antes tão vívidos, foram se misturando e se esvaindo e se distanciando do tempo em que estou agora. Tudo que me lembro, aqui, embaçou-se. E como há de embaçar!

 Vejo nossos dias como vejo meu reflexo no espelho do banheiro úmido: encobertos por um tipo de vapor. As cores ficaram em tons azulados. Aquela camisa... não teria sido ela marrom? Bordô? É injustiça que minha memória tenha escondido os detalhes, mas por outro lado, as sensações, essas ao menos conseguiu preservar. 

 Quando me reconto pela décima vez sobre aquele dia quente, esboço um sorriso, e quando me reconto sobre o dia chuvoso, esboço o choro. Como eram tristes os dias chuvosos, como eram felizes os dias de sol, e como foi agridoce aquele dia quente e chuvoso... E assim, a depender da memória que se fixa, meu dia é conduzido pelo sentimento lembrado. E todo dia sinto algo antigo misturado ao novo, é uma alquimia! Todo instante sinto. Ainda sinto sentimentos que deveriam ter se embaçado junto com o reflexo do espelho. Em mim ainda habita um incômodo sentir que não se transformou em memória. Para que isso aconteça, resta mais esperar.

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