segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Avante!

    Gosto de humanizar as palavras, dar-lhes olhos, boca, nariz, polegares opositores e sentimentos próprios. Talvez, agora seja o momento de dar-lhes racionalidade, também - acrescentar às palavras o sentido que faz a nós, humanos tão... humanos! Não somos só impulsos e reações, temos o acréscimo da reflexão. E, portanto, faz-se a hora de pensá-las bem antes que sejam proferidas, para que se façam entender em sua inteireza, sem duplos significados. 

    Em parte, recorro aos sentimentos como válvula de escape da razão. A razão é assustadora, suas conclusões são literais, e por isso me afugentam para esses outros cômodos do cérebro, que de tão cômodos, me fizeram confortável demais, de modo que me incuti a esse conforto. Me iludi a mim, na verdade.

    É preciso sair desse cômodo, é preciso a junção da coragem da racionalidade e da força de afastar-se dos sentimentos. O primeiro passo é difícil e cambaleante, não é fácil apoiar o outro pé, a fim de ajudá-lo. Mas apoiei o outro pé, e agora estou mais firme para admitir a realidade que estava ludibriada.

   Esse momento difícil parece insuperável, seu fim parece irreal, mas é real, e muito real! A cada passo cambaleante rumo à razão, a cada lágrima derrubada e enxugada, a cada tentativa falha de voltar atrás, me dirijo mais à saída. E vai acabar logo, mais rapidamente do que eu quero, e mais devagar do que preciso. Veja, o que quero e o que preciso são coisas muito distintas, dois conceitos que vivem em mim e se confrontam a todo momento. Um tomado de razão e outro tomado de emoções.

   Os passos à frente e à frente seguem lentos, todos calmamente pensados e meticulosamente sofridos e superados, tomam horas do meu dia em concentração - mas os passos que retrocedem, apenas poucos milésimos de segundos.


    Tic -

    - tac. 


    Retrocedi.


 



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