sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Meditação

   Porque acreditamos tanto sermos merecedores do sofrimento? Mesmo que inocentes de qualquer crime, buscamos constantemente a punição.

   A vida já é suficientemente difícil, certo? E milhares de vidas cruzarão com a sua - muitas colidirão, na verdade, em alta velocidade, de forma desrespeitosa, trazendo dor,  bagunçando-a, sem qualquer reparo possível. Outras passarão deixando um pouco de si e levando um pouco de nós, causando saudade e alegria. Assim se vive, uma persecução de momentos, um pêndulo que oscila entre diversas emoções.

  Logo, por qual motivo adiantar as colisões e negar os momentos de pura felicidade, sentindo culpa ou ansiedades?

  Não há motivo para não permitir sentir todos os sentimentos bonitos e deixar o sofrimento e as dores e a raiva e as mágoas para quando o mal sobrevier. Porque coisas ruins acontecerão, isso é certo... Escolha, portanto, viver as tragédias o mínimo possível, deixando-as para seus momentos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Avante!

    Gosto de humanizar as palavras, dar-lhes olhos, boca, nariz, polegares opositores e sentimentos próprios. Talvez, agora seja o momento de dar-lhes racionalidade, também - acrescentar às palavras o sentido que faz a nós, humanos tão... humanos! Não somos só impulsos e reações, temos o acréscimo da reflexão. E, portanto, faz-se a hora de pensá-las bem antes que sejam proferidas, para que se façam entender em sua inteireza, sem duplos significados. 

    Em parte, recorro aos sentimentos como válvula de escape da razão. A razão é assustadora, suas conclusões são literais, e por isso me afugentam para esses outros cômodos do cérebro, que de tão cômodos, me fizeram confortável demais, de modo que me incuti a esse conforto. Me iludi a mim, na verdade.

    É preciso sair desse cômodo, é preciso a junção da coragem da racionalidade e da força de afastar-se dos sentimentos. O primeiro passo é difícil e cambaleante, não é fácil apoiar o outro pé, a fim de ajudá-lo. Mas apoiei o outro pé, e agora estou mais firme para admitir a realidade que estava ludibriada.

   Esse momento difícil parece insuperável, seu fim parece irreal, mas é real, e muito real! A cada passo cambaleante rumo à razão, a cada lágrima derrubada e enxugada, a cada tentativa falha de voltar atrás, me dirijo mais à saída. E vai acabar logo, mais rapidamente do que eu quero, e mais devagar do que preciso. Veja, o que quero e o que preciso são coisas muito distintas, dois conceitos que vivem em mim e se confrontam a todo momento. Um tomado de razão e outro tomado de emoções.

   Os passos à frente e à frente seguem lentos, todos calmamente pensados e meticulosamente sofridos e superados, tomam horas do meu dia em concentração - mas os passos que retrocedem, apenas poucos milésimos de segundos.


    Tic -

    - tac. 


    Retrocedi.


 



terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Corte e Costura

    Há dias venho tentando reunir as palavras. Acontece que elas andam soltas por aí, descosturadas, espalhadas por todo canto, em grande quantidade, e nunca consigo colocar a linha na agulha. Não as alcanço e elas não vem até mim. Se tornaram bastante independentes, cresceram e seus significados se tornaram insociáveis. Cada uma das palavras é dona de si, e não acho que caiba mais a mim domá-las.  E quando isso aconteceu, eu não sei. Talvez tenha sido uma soma de fatores e as fui perdendo por distração, ao cortá-las em excesso.

    As respostas mais complicadas geralmente são as mais precisas. E por mais simples que uma resposta pareça, se olhada bem de perto, de pertinho, se torna imensa. Aproxime-se suficientemente de um átomo e ele toma a proporção de todo o universo.

    O que eu sinto nesse momento? É algo maior e mais estranho do que aparenta, é uma tragédia e uma comédia, é pequeno e gigantesco. O que sinto é um átimo de um átomo e por isso é forçoso observar algo tão singelo, com essa visão que sequer enxerga o olho da agulha.

  E então me sugerem, "por que não uma máquina de costura?", porque esse texto não é sobre corte e muito menos sobre costura. E ponto!