quinta-feira, 16 de julho de 2020

Florbela Espanca


  Florbela Espanca, batizada como Flor Bela Lobo, e que optou por se autonomear Florbela d'Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa, que se suicidou em 1930. 

  Seus poemas são maravilhosos, e se percebe que seu peito era cheio de amor! Encontrei a poetisa em um grupo de literatura e sua obra nunca mais saiu da minha cabeça. 





  Abaixo, dois dos poemas dela que mais gostei de ler:



FANATISMO

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
- Florbela Espanca, em "Livro de Sóror Saudade"

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Eu sei que me tens amor,
Bem o leio no teu olhar,
O amor quando é sentindo
Não se pode disfarçar.

Os olhos são indiscretos;
Revelam tudo que sentem,
Pode mentir os teus lábios,
Os olhos, esses, não mentem.


Aos olhos dele
Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

- Florbela Espanca