Estávamos conversando, narrando nossas vontades juvenis e nossas histórias de corações partidos, sobre o que é certo e o que é errado. Sobre desejos e felicidade à longo prazo. Julgamos os impulsivos que se entregaram aos princípios errados, quando na verdade falávamos sobre nossa própria alma.
E enquanto falávamos, pudemos sentir a formação de um certo bioma em nosso entorno. E discutimos alvoroçados e rimos de muitos outros assuntos, com os olhares curiosos de uma criança, inseridos no nosso próprio universo de ideias.
Estávamos tão próximos, que a verdade emergiu repentinamente, sobrepondo a nossa deplorável atuação, escancarando nossas tão evidentes mentiras.
Nos envolvemos nessa doce... doce simbiose, por alguns instantes, sem conflitos, sem questionamentos. Envoltos num ar diferente, gentil. É um daqueles segundos que se pudesse, seguraria com a ponta dos dedos e o observaria por toda a eternidade, por anos e anos, fixamente, em êxtase, em alegria absoluta.
No entanto, os instantes se somam e perpassam nossas vontades. Engolindo os sorrisos e trazendo os agouros. O tilintar do relógio, som árduo da nossa questionável moral, nos despertou, e seu perturbador ruído descruzou nossos olhos.
Sabe... Às vezes me esqueço quão infeliz consigo ser. Há barreiras que não podem ser derrubadas em qualquer universo, em qualquer realidade. Nem em um bilhão de anos! Se esses impasses por um privilegiado acaso, fossem inexistentes, nós não seríamos nós. Seríamos a versão feliz, diferente da real.
Nossa sina é que nascemos nesse exato tempo e espaço, com esses empecilhos que moldaram de maneira tão intrínseca nossas entranhas, não havendo como negociar com os fatos. É uma punição severa, imutável.
O silêncio veio, e calamos nossas vozes, em uníssona melancolia.
Me estremeci, assim como você.
E continuamos conversando depois, mas agora sobre o clima.
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