terça-feira, 1 de outubro de 2019

Aguarde

  Você pensou que no dia 03 de setembro estaria assim? Que seu corpo estaria caído no lar vazio e que seu sangue escorreria, vermelho vivo, pelas rachaduras do piso do quarto?
  Quando você era somente uma criança, rodeada por pessoas que te amavam, feliz e ignorante em relação ao mundo, doce e inocente, passou-se pela sua mente que seu destino seria um futuro rodeado pela dor, pela solidão e pela tristeza? Que sentiria uma dor escruciante e profunda, tão profunda, que te faria tirar a própria vida?
  Com que idade você começou a se sentir isolado, infeliz e sem propósitos? Qual foi o primeiro momento em que a ideia de que uma arma apontada pro seu crânio seria uma solução, se desenrolou no seu precioso, único e incrível cérebro?
  Mas seus olhos passaram a usar as lentes da tristeza e começaram a ver tudo como um buraco sem entrada ou saída. 
  Toda bondade era mal vista, todo tempo tranquilo era suspeito e toda raiva, angústia e ansiedade se acumularam por causa da vergonha de esvaziar a alma.
  Se você tivesse esperado dez minutos para apertar o gatilho, teria visto que a pessoa com quem mais se importava, a fonte dos seus sorrisos, teria voltado, teria desistido de desistir e estaria à porta da sua casa, pronta para recomeçar.
 Se tivesse esperado mais quinze minutos, choraria, mas agora de felicidade, e conversaria por longas horas, tirando toda a dor do peito.
 E se esperasse mais um dia, teria rido, como nunca antes, de uma piada idiota, contada por um amigo que te procurou por estar com saudade da sua amizade.
 Se esperasse uma semana, receberia notícias maravilhosas e muito aguardadas.
 Mais um pouco de tempo, e aprenderia a lidar com as frustrações, tornaria-se mais saudável, reformaria o que havia sido destruído e construiria muitas coisas que haviam sido antes postergadas.
 Se tivesse esperado. 
 Se apenas tivesse esperado.

Um comentário:

E aí, o que achou?