Por um acidente que nos conhecemos.
Num domingo chuvoso, com pista escorregadia. Eu dirigia para o sul e você para o norte, ambos ignorantes quanto a existência um do outro, desacreditados do amor.
Minha vida sempre foi monótona e me pergunto se a sua era assim também. Eu tinha acabado de sair de um relacionamento de anos há alguns meses e estava a procura de algum aconchego, mas, sabe... os tempos estavam complicados para os carentes do coração.
E refletindo sobre as dores que cortavam minha alma, me distraí dos tormentos da realidade. E foi aí, no meio da estrada: BUM!
Nos chocamos de frente!
Seu doce rosto apresentou um rubor inocente, e as gotas frias de água se engendraram, gloriosamente, entre suas rugas de receio. Elas reluziram na sua bela pele, a luz das sirenes, como se ali houvessem milhares e milhares de estrelas a serem contempladas. Um universo inteiro de sóis!
Ah, se minha caixa torácica estivesse aberta por outro motivo, com certeza teria sido por você.
Foi através do para-brisa, que nesse ponto já estava todo rachado, que nossos olhares se encontraram. Nunca achei que sentiria algo tão intenso, tão puro como o amor. Sublime amor! – e era esse tipo de emoção estrondosa que sempre faltou em mim, que eu não tive com qualquer outro.
Infelizmente, agora, minha consciência está se esvaindo e você já está sangrando até demais para estar vivo. Talvez um traumatismo craniano? Não sei… mas em cima do motor do seu carro, num solavanco gravitacional, aproximamos nossos corpos, apaixonadamente, pela nossa primeira e última vez.
Nosso encontro foi fatal.
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