Talvez eu seja muito inocente, talvez eu precise ganhar mais
experiência nessa vida, mas, até agora, nunca me deparei com uma pessoa
verdadeiramente ruim - sim, mesmo estas figuras históricas notavelmente reconhecidas
como ruins.
O conceito de "pessoa má" é nebuloso, ninguém sabe
direito o que é, mas todo mundo tem muita certeza sobre quem possui essa
característica, nessa mesma linha segue o meu raciocínio acerca de “ato mal”. Essas
definições são baseadas na moral pessoal de cada um, elas não são uma verdade
universal e imutável. As pessoas se baseiam muito no que acreditam ser o certo
e, mesmo que elas achem que o que estão fazendo não seja o moralmente correto
pra sua época, elas ainda tentam se justificar – e exemplos disso se vê aos
montes.
Em tempos de necessidade a sociedade se transforma completamente,
durante a era nazista muitos dos cidadãos “de bem”, em face da época, passaram
a agir como os “maus”, a agir do que, hoje, no conforto de uma era de paz,
percebemos como mal. No apartheid essa inversão do que é “certo” e “errado”
também aconteceu.
O que esses fatos tem em comum, e em comum com tantos outros,
é que as pessoas agiram “errado” para se preservarem, porque acreditavam estarem certas e até mesmo pelo prazer de verem o caos. Nas primeiras duas alternativas é
mais simples perceber as suas motivações, elas queriam sobreviver, em razão de
seu instinto de sobrevivência, e/ou elas sentiam que aquilo que defendiam era
correto. A última alternativa, bem, ela é o que se conhece por “ato ruim” que
só pode vir de uma “pessoa ruim”, afinal, ela gosta de ver o caos (!). Ocorre que
este prazer imoral é humano, é o traço da nossa espécie que é mais humano: é o
nosso lado animal.
Assim, acho que a chave para entender o que é ser mal é a palavra “indiferença”.
Esta pessoa “má”, eu concluo, é aquela que age por instinto, ela se guia pela recompensa
da sensação de prazer, e é indiferente ao que é moral e ético.
Nós, sociedade,
não gostamos de indiferença, e um bom exemplo disso é o fato de criarmos deuses
e termos crenças, por simplesmente não suportarmos a ideia de que o mundo não
dá a mínima para a nossa existência. Nós odiamos o indiferente, nós o rotulamos
como mal e camuflamos seu significado, pois nós queremos nos afastar da ideia
de que somos assim, de que nascemos do indiferente e de que morreremos nele. Não
queremos lidar com o fato de que o indiferente é irracional e incontrolável, é
uma verdade estampada na nossa cara.
Em suma, não queremos ser maus e nos afastamos
de tudo que é indiferente, afinal, o pensamento majoritário é de que somente os
animais, os insetos e os seres não civilizados, são indiferentes, assim
pensamos, pois estes não possuem nossas regras, não possuem nossa sociedade, não
são "complexos" como somos e são "inferiores" a nós, os vencedores da seleção natural.
Além do mais, acho que a sociedade também usa esse personagem incerto, naturalmente
ruim, que está sempre à espreita, como uma forma de não encarar o fato de que
ela pode agir de forma contrária ao que vê como correto, como forma de não se
perceber de maneira negativa. Todos somos capazes de praticar coisas "ruins", somos falhos, agimos por instinto, instinto este que nos acompanha desde o nascimento, que é passado de geração pra geração através de nossa herança genética, que veio do nada e que pro nada voltará. Não há "mal", assim como não há "bem", nós criamos ambas as ideias, apenas.