terça-feira, 26 de setembro de 2017

eu, Eu e os outros


  Aprendi muito cedo a administrar minhas emoções perto das pessoas. Acredito que duas ou três delas saibam sobre meu outro lado: o lado depressivo e de difícil convivência, a parte de mim que é a mais verdadeira, que é a que mais odeio e a que mais odeiam.

  Acredito que todas as pessoas possuem esses dois Eus, mas a diferença entre os meus é um pouco espantosa pra quem se aproxima muito de mim. Externamente, sou a pessoa que sorri, a pessoa que é calma, que lida com os estresses da vida. Quando estou próxima de outras pessoas, até eu acredito nesse Eu.

  Antes eu demonstrava minhas duas faces para o mundo, e ele, com razão, me odiava. Primeiro porque eu posso me irritar muito, muito, muito, muito facilmente, porque falo demais, tenho manias estranhas, me entristeço com pouco, porque tento decifrar tudo e todos a todo momento e distribuo lições de moral não requisitadas com muita frequência.

  Por muito tempo acreditei que o problema eram os outros, mas com o passar dos anos fui percebendo que a forma como eu sou é muito complicada. Sou como uma pedra presa no calcanhar das pessoas, que são educadas demais para se soltarem, que toleram por tempo demais o intolerável. Ninguém precisa lidar com isso.

  Vendo que o meu lado mais verdadeiro afetava demais os outros, resolvi o reservar. Uma ou outra pessoa, nesse período de reserva, gostou do lado exposto ou até mesmo se apaixonou por ele. Apesar de saber como eu sou, vez ou outra, gostei ou até mesmo me apaixonei de volta - e nessas situações, inevitavelmente, me conheceram por completo.

  Quem me conheceu de verdade, infelizmente (para mim e não para eles), perdeu o interesse e teve que se afastar, acho que os deixei pasmos, acho que os machuquei e os irritei. Coloquei muito peso nas costas dos outros, eles se sentiam e se sentem responsáveis e, acredito eu, porque as faço pensar assim.

  Apesar de saber bem como sou, de tentar me conhecer e melhorar, como humana, como uma estúpida humana, cometo os meus erros e acabo deixando se aproximarem de mim. Por que faço isso? Acho que porque sou, além de uma pedra, um tipo de buraco negro. Um buraco negro cujo o outro lado é uma prisão.

  Sinto muita pena das pessoas realmente próximas de mim, que tem que aguentar todo o meu enorme peso. Sinto também das que, apesar de não perceberem, caem na minha mentira (omissão também é mentira) diariamente.

  Sinto muito. Vocês não deveriam sentir nada em relação a mim. Eu deveria dar mais amostras do meu eu, para que assim as pessoas fiquem cientes e se afastem antes de criarem comigo embaraçosos laços afetivos. Claro que eu poderia resolver essa questão de uma forma mais drástica, mas não tenho coragem. Enquanto isso não acontece, por favor, afastem-se de mim. Eu os entendo até demais.

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