segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A comédia que é a vida

 Quando se é criança- pelo menos no meu caso-, você não quer papel nenhum, só quer brincar. Aí acontece aquela fase embaraçosa em que você não é criança e nem adulto, aquela que, no fim das contas, ninguém se sente muito orgulhoso de ter passado, das decisões que tomou durante ela: a adolescência.
 Durante a adolescência, tudo o que a gente quer é ser o legalzão da turma, e se não der, pelo menos que não sejamos os mais zoados. Pra sobreviver nessa selva, nesse antro de aparelhos ortodônticos e acnase, a gente acaba por pegar uns personagens de filmes, séries, jogos, uns trejeitos daquela tia legal e independente que mora na cidade grande e torce pra essa caracterização peloamordedeus funcionar.
 A minha personagem não funcionava muito bem, o problema mesmo é que eu era indecisa que dava dó, toda hora eu mudava o conceito de ''legal'' e ''chato''. Então, tinha esse dia que eu acordava Madre-Tereza-de-Calcutá e ia regularmente as aulas, tirava notas boas e ficava distante dos gatinhos do colégio- parecia até que eu tinha pedido medida protetiva de 100 metros de tudo de prazeroso que a vida tinha a oferecer-, e tinha esses outros dias que a rebelde sem causa relevante surgia.
 Lembrar disso é engraçado, mas me deixava cansada esse teatro todo. Haviam essas pessoas que diziam pra gente ser quem é, mas isso não fazia muito sentido pra mim na época porque eu não sabia se eu era alguém pra ser, se é que me entende.
 No fim, essa fase passou tão rápido, toda aquela coisa de hormônios a flor da pele deixou de me assombrar. Estou num processo de desaceleramento emocional e isso está me fazendo muito bem. Percebi que quando a gente cresce, prefere ser a melhor versão de si ao invés de ser a melhor versão que puder encontrar na cultura pop. Mas não serei hipócrita nesse texto, sinto um tanto de falta daquela bolha de emoções violentas, mas só sinto mesmo, não voltaria atrás com uma máquina do tempo pra viver tudo de novo, por enquanto.
 Enfim, esse texto é meio sem final, já que a vida é essa comédia nonsense com a qualidade que varia entre Monthy Python e Zorra Total, que não vai te dizer se o que você sente é real, se o que você pensa é correto. Quem sabe, daqui 10 anos eu não esteja mais de acordo com o que aqui foi escrito.

:*

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