Todas as pessoas que conheci (e isso me inclui) foram, são ou serão emocionalmente manipuláveis; o ruim é quando algumas ficam presas tempo demais nessas situações. Os manipuladores não são necessariamente pessoas más e seus objetivos nem sempre são macabros; além disso, suas vítimas são de índole variável - ou seja- o bom e o mau não tem papéis muito definidos nessas relações.
Conviver com alguém que está na esfera passiva desses relacionamentos não é fácil; ter paciência para ver alguém aguentando coisas ruins só para deixar alguém feliz é um exercício de compaixão porque nem sempre o sofredor entende o que está passando ou fazendo as pessoas a sua volta passarem.
Amar alguém compreende, principalmente, a coexistência com seus pontos fracos; e por esse motivo é preciso agir de forma a não pôr mais peso nos ombros dessa pessoa que está sofrendo uma extorsão emocional. Então, como agir? Eu não sei com certeza, mas o caminho mais longo é esperar e conversar sempre usando a calma. Seja quase um monge e inspire sempre que essa pessoa disser algo prejudicial a si mesma, o ideal é você seja visto como um porto seguro e um ponto de apoio, quase um psiquiatra. Esse é um dever difícil de cumprir, eu entendo, mas repita para seu cérebro toda vez que você quiser sacudir o coitado até os miolos dele virarem pudim que as coisas não funcionam com base na violência e no distanciamento, ou melhor, toda tentativa de psicologia reversa é inútil, ao invés da pessoa se aproximar de ver a verdade ela vai correr de volta para a reconfortante e cotidiana mentira.
Coloque o amor em primeiro lugar em tudo, e quando se tratar de lidar com pessoas metidas em grandes esquemas sentimentais, lute contra seu plano de resolução de problemas com base na violência- tudo pode ser resolvido de forma racional desde que se utilize a calma. Esteja sempre do lado dessas pessoas, elas precisarão.
Talvez você retorne aqui e todos os textos tenham sumido ou note que as palavras foram trocadas e o sentido de um poema, de um texto, de uma frase, de um aforismo foi totalmente invertido. Aqui é RASCUNHOlogia, não Definitivologia.
domingo, 20 de dezembro de 2015
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
Encaixotada
Num futuro distante, existirá uma garota chamada Luana. Essa menina se sentirá muito feliz o tempo inteiro e terá muita facilidade para desaprender e ficar confortável.
Luana, coitada, às vezes- bem de vez em quando mesmo- se sentirá muito, muito solitária e deprimida, e esse vazio chegará perto de a devorar; mas quando essa dor passar ela preferirá não gastar seu tempo precioso de alegria tentando descobrir a razão desses raros eventos- ninguém que convive com ela, na verdade, entenderá ou buscará entender: Afinal, como alguém consegue ficar tão triste morando numa caixa tão linda, pequena e cheia de respostas quanto aquela?
Luana, coitada, às vezes- bem de vez em quando mesmo- se sentirá muito, muito solitária e deprimida, e esse vazio chegará perto de a devorar; mas quando essa dor passar ela preferirá não gastar seu tempo precioso de alegria tentando descobrir a razão desses raros eventos- ninguém que convive com ela, na verdade, entenderá ou buscará entender: Afinal, como alguém consegue ficar tão triste morando numa caixa tão linda, pequena e cheia de respostas quanto aquela?
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
Motivacional gera like
Não quero exagerar, mas muita gente não usa drogas porque é feio ficar feliz de forma não-sóbria, é como se estar alterado e feliz fosse fácil demais pra ser invejado; a felicidade, hoje, virou algo a ser fotografado, tageado, postado e ostentado nas redes sociais; a tristeza é realidade demais pra ser digerida, e ninguém está afim de lidar com isso agora.
Na busca por uma alegria de viver, as pessoas procuram muito a auto-ajuda: é texto de apreciação da vida aqui, frase de incentivo acolá- é perturbador o quanto as pessoas recorrem a essa tentativa inútil de escapar da própria realidade. É como se todos buscassem ser algo diferente e superior (dentro dos parâmetros sociais), ao invés de ser algo melhor.
Grande parte desses conselhos de vida te indicam um tipo de auto lobotomia: não sofra, diga na frente do espelho que a vida é bela três vezes ao dia e ignore a depressão. É quase uma receita de bolo de milho.
Eu li algumas páginas daquele livro ''O Segredo'', pois o comprei por engano. Fiquei super chateada com aquela obsessão por sucesso pregada em suas folhas- não consegui ler metade delas. E o que aprendi com essa experiência foi o seguinte: siga o contrário do que os textos motivacionais te dizem. Não sofra pela metade, chore de corpo e alma, fique de luto, lide consigo mesmo e sinta algo! Fique com raiva, constrangimento e tesão, sem tabus. Não tenha medo de refletir e se questionar por medo de sentir algo que não seja pura alegria e contentamento com a vida, isso é covardia, e gente covarde sempre freou a sociedade.
Eu vejo essas pessoas sofrendo para tirar uma foto que mostre como suas existências são equilibradas e incríveis e outras que se punem e ficam frustradas por não conseguirem alcançar esse ideal. Noto também que tem muita gente que faz de tudo para ser feliz ao ponto de querer controlar todo mundo, ao ponto de pisar em outros humanos- tudo por medo de lidarem com a dor.
O mundo de um covarde é tão pequeno que só cabe ele mesmo; não tem espaço pra problemas, críticas ou conhecimento. São pessoas que se trancam nesse minúsculo universo que acreditam que se destacar é comprar uma roupa exótica, mudar é trocar de gosto musical, que ser feliz é comprar um carro e ter sucesso é conseguir se casar e ter filhos antes dos 30 anos de idade.
A vida é uma merda na maioria das vezes, nada faz sentido, todos temos vontade de fugir das responsabilidades, usamos drogas e textos de auto ajuda mas, entenda, tudo isso faz parte da realidade. Se você não consegue conviver com as mazelas existenciais, não vai conseguir apreciar as pequenas alegrias de um jeito concreto, intenso. Não finja emoções, não seja um covarde.
O problema da coexistência
Desde uma certa idade- aquela em que a dizem que tudo em nós está inadequado- nos forçamos a criar esse personagem que serve para esconder as inseguranças, os medos, a raiva, a paixão, ou melhor, tudo aquilo que, de fato, nos torna humanos. Se atuarmos por muito tempo, passamos a crer que somos aquela maravilhosa ficção- e não há problema algum com isso, até percebermos que não conseguimos nos manter nesse papel vinteequatrohoraspordia/setediasporsemana, porque é sufocante e impossível; em algum momento temos que nos deixar em paz, porém isso não é tão incômodo, já que todo esse serviço faz a gente se acostumar com a ideia de nunca sermos honestos.
O problema começa quando somos obrigados a passar o tempo com alguém- não digo ''obrigados'' no sentido ruim, incluo nisso o sentimento de amor, carinho, afeto e tudo de bom. Sendo assim, as pessoas que estão passando esse breve tempo terrestre conosco acabam, uma hora ou outra, por tomar conhecimento do que realmente somos; então o jogo começa: ou vão te aceitar do jeito que é, ou vão te dar um fora inesquecível.
Quando alguém te conhece realmente, vai encontrar os seus defeitos e fraquezas; e é um pé no saco ter que lidar com a vergonha de ser exposto assim de qualquer jeito: sem retoques, photoshop, auto-tune ou uma dose de tequila pra descontrair. É mais ou menos nesse mesmo tempo que você começa a se remoer de dúvidas, se você é feio por dentro, se a outra pessoa é pouco tolerante com seus defeitos, se o melhor mesmo era nunca ter se mostrado tanto assim para alguém.
Acredito que várias respostas estarão escondidas no lugar mais clichê: em você mesmo. Primeiramente, não tente se comparar com aquela criatura ficcional criada para te interpretar em tempo integral, aquilo não é você, é uma versão minuciosamente editada e pronta para responder a alguns estímulos de maneira ensaiada. Essa sua versão é domesticada e pouco natural, e só representa uma parte mínima do que é você realmente.
Olha, não sou fã de auto-ajuda, mas é preciso se acostumar a viver com o que você é, mesmo que as pessoas te reprovem- mas não só isso. É preciso, também, saber lidar com as críticas e filtrá-las, já que as vezes somos babacas e ainda não tomamos conhecimento disso; no entanto, não deixe que a opinião do mundo todo influencie nos seus passos, senão você vai parecer uma daquelas bonecas sexuais- com os buracos nos lugares certos e nenhuma opinião sobre o que estão te fazendo passar.
*Sim, esse texto foi muito ''olhe no espelho e diga três vezes: eu sou incrível e consigo fazer o que quiser'', mas esse blog foi feito pra colocar uns rascunhos bobos.... fuck it.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
A terra prometida
Existem esses momentos-chave na vida, que você sabe que vão mudar algo que antes era intocado;
esse incômodo novo e nunca antes pensado te faz refletir se aquilo esteve sempre ali. Algo ruim te consome, depois tudo vai ficando mais claro. De uma hora para outra o quebra-cabeças se encaixa, a ficha cai, as coisas que antes eram verdadeiras já deixam de fazer sentido, e então a negação acontece. É difícil aceitar que um detalhe mude toda a sua base, tudo o que você é, tudo o que você achou que seria; nesse momento há duas escolhas: aceitar a negação ou abraçar a verdade- e isso não é definitivo, as opções sempre aparecerão, mas essa decisão inspirará todas as seguintes.
Aceitar a aventura que é mudar de perspectiva é complicado. Todo mundo, no fundo, acha que a verdade é dura e fria, mas pouca gente sabe o quanto é legal se libertar da mentira. Apreciar os dias com outros olhos é uma sensação que nunca fica monótona: curiosidade, perplexidade, espanto, alegria, tristeza e compreensão fazem parte desse novo menu.
A minha experiência me dizia algo, mas toda a sociedade dizia o contrário então, eu, condicionada a ceder a maioria, me reprimia de perguntar e de me deixar experimentar várias coisas- desde aceitar um docinho de uma pessoa de determinada religião a refletir mais criticamente sobre a religião em que fui criada- e tudo isso por causa do medo de cometer o pecado.
Os pecados, na minha religião e sociedade, são abstratos e mutáveis, incrivelmente difíceis de seguir com disciplina; nem os mais extremistas e fanáticos conseguem se manter de pé nessa ponte tão estreita que é a vida pura e idealizada do cristianismo protestante.
Livrar-me dos dogmas foi assustador, rendeu uma boa crise existencial, mas foi muito positivo- agora eu posso curtir mais os momentos, não preciso ter medo de ter uma ideia original, uma crítica ou de aceitar fatos científicos. Estou mais humana e mais calma, não exijo mais tanto dos outros, talvez eu possa até chamar isso de felicidade, mesmo que ninguém me leve muito a sério.
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
O viajante
Dizia o diário da minha tataravó Gertrudes, que em 1915 andava pela rua um louco chamado Aristides- outrora um abastado, estudado e solteiro requisitado. Seus surtos começaram cedo, sendo notados por seus criados, mas nunca levados a sério pela sua família. No mais, o garoto foi criado muito bem, estudou nos colégios europeus mais caros e se tornou Doutor em Direito; tudo como manda a etiqueta. No entanto, na idade de 26 anos, após ter retornado a sua pequena cidade de origem e ser recebido por grandes festas, usou seus atributos para tentar encontrar uma esposa, afinal, Doutor em Direito e de família renomada são a fórmula do sucesso nos Estados Unidos do Brasil de cem anos atrás.
Outrossim, Doutor Aristides Vilheira tentou galantear todas as belas moças que podia nos primeiros anos de sua volta, mas todas fugiam logo após o pedido de noivado, isso devido a seus espasmos de egocentrismo, diziam. Seu pai, João Ignácio, tentou ajudar, pediu até para a tata Gertrudes- no dia do casório com meu tataravô- para desposar seu filho, chegando a prometer dinheiro e terras!
Passaram-se alguns meses e o coitado do Aristides, sofrendo por falta de amor, começou a gritar pelo bairro que era um homem de 1800 que não conseguia sair de 2015; dali em diante comportou-se de forma estranha à sociedade: mostrava a todos o que ia comer, mas nunca ofereceria nada a ninguém.
Não demorou muito mais que 2 anos, e minha tataravó, assim como toda a comunidade, estava então acostumada a ver o pobre Aristides saindo em suas melhores roupas nas ruas, oferecendo cartões com os endereços de seus alfaiates, indo a excelentes restaurantes, sempre segurando um espelho a sua frente e falando sozinho as mesmas frases: ''É preciso ensinar a pescar. O melhor a se fazer é clamar por uma intervenção militar constitucional, isso dará certo. Direitos humanos? Isso não deveria existir! Eu acredito que seu professor de história mentiu pra você''.
O coitado do louco sumiu do mapa, mas não antes de deixar uma placa que chocou toda a região, com os dizeres: #partiu2016.
sábado, 14 de novembro de 2015
O mar nunca foi tão azul
Se tem um presente que eu gosto de receber é o tal do livro, e penso isso pois ele é a sintetização da filosofia do custo-benefício: um preço baixo por histórias, ensinamentos e dias de lazer. Ganhar um livro, para mim, é como ganhar um ticket para um spa ;); posso nem sempre ter tempo para ler, mas só de tê-los ali, me esperando, me sinto privilegiada.
Enfim, meu namorado sempre me dá ''cestas-básicas'' de literatura, e a última que eu recebi continha livros incríveis: Laranja Mecânica, 2001: Uma Odisseia no Espaço, entre outros. Um deles me deixou com um certo receio, já que achei que acabaria o deixando mais tempo que o normal na fila de espera da leitura ou o esqueceria na prateleira, e tudo isso em razão do nome do autor.
Peguei o livro como quem não tem nada pra fazer- mas tinha. E o que refleti depois de cumprir meu ritual de cheirar as suas folhas, foi o seguinte: a capa não é a das mais atraentes e o peso de se ler- e entender- um clássico da literatura russa afetaria muito meu ego, isso porque eu me sentiria muito ignorante, teria de dedicar horas para decifrá-lo. Pois é... formei todo um preconceito de como seria complicado ler A Arte de Escrever de Arthur Schopenhauer - e não é que eu me enganei muito? Sabe, amei estar enganada; o cara escreve de um jeito tão simples, tão inconformado com gente que deixa o leitor desorientado em razão da complexidade da escrita, da excessiva e desnecessária cientificidade de textos acadêmicos e da terrível desvalorização da língua que acabei me apaixonando por ele, reagi de uma forma muito esquisita: comecei a conversar com o livro, isso mesmo, em voz alta e tudo! Questionei o autor num parágrafo, ele me respondia no outro; ficava confusa com determinado raciocínio, logo em seguida ele me situava. E em razão disso tudo, Schopenhauer é considerado por mim como co-autor do meu artigo de direito penal, amigo íntimo e um professor admirável. É uma pena as leis da física não me permitirem voltar no tempo e conhecê-lo, acredito que eu aprenderia tanta coisa a mais com ele! (sim, estou tietando um cara morto feat. enterrado)
Outra coisa que eu gostei nele, assim como gostei quando li um pouquinho de Freud, Nietzsche, Brecht e Foucault, foi o estresse, entende? Gente estressada, com argumentos e inteligência escreve bem o suficiente para entrar nas reflexões das pessoas e mexer com suas formas de ver o mundo por toda a história, se tornam clássicos.
Por fim, vou furtar aqui a frase de um amigo e alterá-la um pouco pra explicar o que esse autor me fez passar: ''Queria esquecer aquilo, só para poder sentir como na primeira vez''.
Observação: Eu não lembro da onde eu tirei o título do meu texto, minha memória deve tê-lo alterado um pouco. É bem provável que ele seja parte de alguma poesia ou música, não consegui recordar corretamente as palavras para encontrar o autor, então se alguém ler esse blog - o que eu não ache muito provável- por favor, não pense que eu sou uma ladra de propriedade intelectual. Grata <3
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Uma metáfora de meia tigela
Os meus melhores textos- ou o que eu acho que sejam meus melhores textos- vêm de onde eu menos espero. Eles aparecem do nada, quando meus dedos e minha mente andam mais juntas e deixam de se importar tanto com o sentido que as coisas deveriam ter.
Sabe, eu sempre gostei de escrever, mas me senti muito assustada quando descobri que existiam milhares de regras pra seguir, pra moldar o que eu penso, pra deixar tudo o que é legal numa fôrminha de bolo de milho. Eu odeio bolo de milho, mas adoro escrever e, por essa razão fiquei meio deprimida. Foi aí eu descobri, depois de refletir um tempo, que nessa fôrma cabiam outras receitas e, dentre elas, a minha favorita: bolo de brigadeiro!
O problema começou quando eu passei a achar a minha receita de bolo uma grande cópia de todas as outras receitas, e daí em diante tentei fazer uma que fosse minha e original. Foi quando tentei gourmetizar- o que foi um desastre completo-, que percebi que eu conseguia fazer um bolinho mais simples só puxando os ingredientes da memória. Acho que talvez seja por isso que eu tenha vergonha de chamar pessoas para experimentar o que eu faço, é tudo simples demais: o bolo não tem nada de especial, e talvez seja doce demais pra maioria dos paladares, só que eu gosto.
Pois é, não é fácil fazer textos (ou bolos).
Sabe, eu sempre gostei de escrever, mas me senti muito assustada quando descobri que existiam milhares de regras pra seguir, pra moldar o que eu penso, pra deixar tudo o que é legal numa fôrminha de bolo de milho. Eu odeio bolo de milho, mas adoro escrever e, por essa razão fiquei meio deprimida. Foi aí eu descobri, depois de refletir um tempo, que nessa fôrma cabiam outras receitas e, dentre elas, a minha favorita: bolo de brigadeiro!
O problema começou quando eu passei a achar a minha receita de bolo uma grande cópia de todas as outras receitas, e daí em diante tentei fazer uma que fosse minha e original. Foi quando tentei gourmetizar- o que foi um desastre completo-, que percebi que eu conseguia fazer um bolinho mais simples só puxando os ingredientes da memória. Acho que talvez seja por isso que eu tenha vergonha de chamar pessoas para experimentar o que eu faço, é tudo simples demais: o bolo não tem nada de especial, e talvez seja doce demais pra maioria dos paladares, só que eu gosto.
Pois é, não é fácil fazer textos (ou bolos).
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
STATUS QUO
Não gosto de soar arrogante,
mas nesse mundo todo papel programado é fundamental
Tudo que digo se torna importante
Com essa gente que encontra defeito em tudo o que é normal
O ''mas'' nas minhas sentenças agora são um problema
E é tudo por causa desses politicamente corretos
Sempre me pego num dilema
E é difícil lidar com esses novos sentimentos indiscretos
Tudo o que rio já não me parece tão legal
Agora parece que convivo com um decreto
De me sentir arrogante em tempo integral
mas nesse mundo todo papel programado é fundamental
Tudo que digo se torna importante
Com essa gente que encontra defeito em tudo o que é normal
O ''mas'' nas minhas sentenças agora são um problema
E é tudo por causa desses politicamente corretos
Sempre me pego num dilema
E é difícil lidar com esses novos sentimentos indiscretos
Tudo o que rio já não me parece tão legal
Agora parece que convivo com um decreto
De me sentir arrogante em tempo integral
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
A comédia que é a vida
Quando se é criança- pelo menos no meu caso-, você não quer papel nenhum, só quer brincar. Aí acontece aquela fase embaraçosa em que você não é criança e nem adulto, aquela que, no fim das contas, ninguém se sente muito orgulhoso de ter passado, das decisões que tomou durante ela: a adolescência.
Durante a adolescência, tudo o que a gente quer é ser o legalzão da turma, e se não der, pelo menos que não sejamos os mais zoados. Pra sobreviver nessa selva, nesse antro de aparelhos ortodônticos e acnase, a gente acaba por pegar uns personagens de filmes, séries, jogos, uns trejeitos daquela tia legal e independente que mora na cidade grande e torce pra essa caracterização peloamordedeus funcionar.
A minha personagem não funcionava muito bem, o problema mesmo é que eu era indecisa que dava dó, toda hora eu mudava o conceito de ''legal'' e ''chato''. Então, tinha esse dia que eu acordava Madre-Tereza-de-Calcutá e ia regularmente as aulas, tirava notas boas e ficava distante dos gatinhos do colégio- parecia até que eu tinha pedido medida protetiva de 100 metros de tudo de prazeroso que a vida tinha a oferecer-, e tinha esses outros dias que a rebelde sem causa relevante surgia.
Lembrar disso é engraçado, mas me deixava cansada esse teatro todo. Haviam essas pessoas que diziam pra gente ser quem é, mas isso não fazia muito sentido pra mim na época porque eu não sabia se eu era alguém pra ser, se é que me entende.
No fim, essa fase passou tão rápido, toda aquela coisa de hormônios a flor da pele deixou de me assombrar. Estou num processo de desaceleramento emocional e isso está me fazendo muito bem. Percebi que quando a gente cresce, prefere ser a melhor versão de si ao invés de ser a melhor versão que puder encontrar na cultura pop. Mas não serei hipócrita nesse texto, sinto um tanto de falta daquela bolha de emoções violentas, mas só sinto mesmo, não voltaria atrás com uma máquina do tempo pra viver tudo de novo, por enquanto.
Enfim, esse texto é meio sem final, já que a vida é essa comédia nonsense com a qualidade que varia entre Monthy Python e Zorra Total, que não vai te dizer se o que você sente é real, se o que você pensa é correto. Quem sabe, daqui 10 anos eu não esteja mais de acordo com o que aqui foi escrito.
:*
Durante a adolescência, tudo o que a gente quer é ser o legalzão da turma, e se não der, pelo menos que não sejamos os mais zoados. Pra sobreviver nessa selva, nesse antro de aparelhos ortodônticos e acnase, a gente acaba por pegar uns personagens de filmes, séries, jogos, uns trejeitos daquela tia legal e independente que mora na cidade grande e torce pra essa caracterização peloamordedeus funcionar.
A minha personagem não funcionava muito bem, o problema mesmo é que eu era indecisa que dava dó, toda hora eu mudava o conceito de ''legal'' e ''chato''. Então, tinha esse dia que eu acordava Madre-Tereza-de-Calcutá e ia regularmente as aulas, tirava notas boas e ficava distante dos gatinhos do colégio- parecia até que eu tinha pedido medida protetiva de 100 metros de tudo de prazeroso que a vida tinha a oferecer-, e tinha esses outros dias que a rebelde sem causa relevante surgia.
Lembrar disso é engraçado, mas me deixava cansada esse teatro todo. Haviam essas pessoas que diziam pra gente ser quem é, mas isso não fazia muito sentido pra mim na época porque eu não sabia se eu era alguém pra ser, se é que me entende.
No fim, essa fase passou tão rápido, toda aquela coisa de hormônios a flor da pele deixou de me assombrar. Estou num processo de desaceleramento emocional e isso está me fazendo muito bem. Percebi que quando a gente cresce, prefere ser a melhor versão de si ao invés de ser a melhor versão que puder encontrar na cultura pop. Mas não serei hipócrita nesse texto, sinto um tanto de falta daquela bolha de emoções violentas, mas só sinto mesmo, não voltaria atrás com uma máquina do tempo pra viver tudo de novo, por enquanto.
Enfim, esse texto é meio sem final, já que a vida é essa comédia nonsense com a qualidade que varia entre Monthy Python e Zorra Total, que não vai te dizer se o que você sente é real, se o que você pensa é correto. Quem sabe, daqui 10 anos eu não esteja mais de acordo com o que aqui foi escrito.
:*
Essa gente enfadonha...
Até hoje tento encontrar a razão de ter feito um blog, de colocar um monte de coisa pessoal e que iria para o cantinho do esquecimento na internet. Talvez seja porque eu sempre perco meus diários nas minhas bagunças, talvez seja porque eu quero fazer as pessoas sentirem algo bom, que não seja pena ou vergonha alheia, ou eu seja só egocêntrica mesmo, uma menina afim de avaliar a si mesma através do que escreve. Acho que não é preciso ter razão nenhuma, afinal de contas, pra escrever coisas íntimas e acessíveis a qualquer um. E esse ''qualquer um'' inclui stalkers, estupradores, criminosos. Acho que eu deveria simplesmente parar de escrever um blog, afinal, isso é muito perigoso. Tô falando demais, não tô? Sobre o que eu ia dizer mesmo? Estou ficando parecida com aquela gente prolixa, sabe? Aquele tipo de gente enfadonho, que fala demais e não chega a lugar nenhum, que diz tanta coisa e não termina o assunto, que faz perguntas retóricas em excesso. Isso chega a deixar as outras pessoas zonzas. Queria mesmo é colocar um prolixo num potinho e observá-lo implodir de tanto falar e falar. Odeio essa gente! Apesar que odiar... Odiar é uma palavra extremamente forte, né? Como que a língua humana é evoluída, gente! Uma palavrinha consegue ter uma carga forte de emoções e com a capacidade de nos deixar atordoados: felizes, tristes ou bravos. Sentir é algo incrível, assim como aquela animação em que os sentimentos tem sentimentos... Sabe, mudei de ideia, gente prolixa é até interessante, pode te oferecer informações interessantíssimas e acrescentar muito em sua vida e em sua carga cultural. É, eu amo esse pessoal prolixo. Mas ainda não sei por que eu fiz um blog.
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Moscando
Uma mosca estúpida deu a luz a várias outras moscas estúpidas, à exceção de uma. A mosca-não-estúpida tinha consciência de si e concluiu, após algumas horas de vida que: a) é uma mosca e b) é tão estúpida quanto todas as outras, com a diferença que é a única a notar isso. Qual a razão disso de viver? perguntou a outra desnorteada de sua espécie; a resposta foi um insatisfatório ''bzzz''.
Depois de um tempo tentando estabelecer diálogos entre suas irmãs, a mosca-estúpida-e-consciente voou deprimida a procura de algo que a fizesse ser feliz- tão feliz quanto suas compatriotas- mesmo tendo tantas perguntas e medos dentro de si. E, enquanto estava no meio de um raciocínio sobre a conexão entre felicidade e a ignorância, ficou presa numa teia e foi, consequentemente, comida por uma gigante e estúpida aranha.
Nesse mesmo tempo, as moscas estúpidas que não foram presas pela teia, seguiram voando para nenhum lugar em especial...
A.C.Vilela
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
O Planetário
Reportagem da marciana Cleonice Silveira para a revista O Planetário 13/04/2.352 às 13:35.
Numa galáxia distante e desconhecida por grande parte do universo, em razão da sua falta de estímulo ao turismo, há um planeta sem nome que possui diversos habitantes inteligentes e civilizados que alegam veementemente não existirem. E é por essa razão que há dois anos terráqueos atrás, tredecilionários filantropos, atrás de um novo mercado de viagens à locais muito, muito distantes, enviaram cinco estudiosos desempregados de renome para que fizessem uma pesquisa filantrópica de mercado e trouxessem os motivos pelos quais tais seres pensam de forma tão... deprimente.
A ideia do tredecilionário Zheus é ajudar a comunidade em questão a ter mais alegria através do turismo - mercado quente após a descoberta de três galáxias trafegáveis. Em rara entrevista, Zheus declarou: "a alegria de nosso planeta será espalhada através do turismo, alguns amigos foram até o local e voltaram deprimidos, o que foi positivo, visto que o mercado psiquiátrico teve um bom aumento de produtividade... no entanto, não por muito tempo, o que é negativo, considerando sua queda em razão dos suicídios. Eu e outros colegas pensamos, então, numa alternativa de mercado que muito beneficiará a população: o turismo. A parte filantrópica é a suavização da depressão e suicídios".
Meses de estudos sobre o local trouxeram resultados exóticos: o suicídio de quatro dos cinco especialistas enviados até lá. Os suicídios foram os primeiros a acontecerem naquele planeta, segundo dados da Milionários Filantropos - S/A.
O corajoso único sobrevivente, ex-psicólogo e atual interno do Centro Marciano de Recuperação, Teobaldo Rios, passa por terapia de choque para evitar recaídas às drogas e evitar que ele destrua os últimos dados coletados no planeta de interesse. O motivo de sua depressão está exposto no trecho abaixo, conseguido com exclusividade por nossa equipe de reportagem, da única entrevista que não foi destruída pelo pesquisador em ato recorrente de vandalismo. Vamos à ela:
Teobaldo- Olá minha senhora, muito obrigado por ter concordado em participar desse estudo que pretende trazer empregos para sua sociedade. Você pode me dizer seu nome? Mas antes disso, a sua cidade é extremamente organizada e tem belíssimas paisagens, meus parabéns a vocês! Foi por essa razão maravilhosa que os Milionários Filantropos - M.I. S/A se interessaram tanto em trazer uma franquia de suas agência de turismo para este local cativante. Infelizmente o problema 'existência' pode acabar afastando possíveis viajantes que procuram um pouco de felicidade na hora de sair da rotina...
Inexistente- Eu não tenho um nome. Aqui ninguém tem isso. Obrigada pelos elogios, mas vocês tinham dito que estavam aqui pelo prazer de aprender e promover o intercâmbio de culturas, e não vender. Enfim... isso é irrelevante.
Teobaldo- S-sim, claro, isso também. Bom, prosseguindo... Não há algo que denomine a sua pessoa, ou melhor, que dê referência a quem você é?
Inexistente- Não há motivos para denominar o que não existe.
Teobaldo- Preciso insistir, senhora, meu emprego está em jogo. Não existe nada que te defina para que eu possa colocar nos arquivos?
Inexistente- Pode me chamar de inexistente, se for te animar.
Teobaldo- Ahã... tudo bem, senhora Inexistente. Notei que, assim como você, seu planeta não tem um nome. Passei os últimos meses tentando descobrir qual era e me disseram que não há razão pra isso... Chega de falar de mim, vamos falar sobre o fato da senhora existir tanto quanto eu e estar em negação sobre isso.
Inexistente- O que te faz crer que você ou eu estamos existindo? Não consigo compreender esse raciocínio estrangeiro.
Teobaldo- Hora, eu existo sim, pois penso! Estou pensando nesse exato momento.
Inexistente- O que me deixa confusa é que você acredita que pensar é um requisito para existir. Se for levar isso em conta, você existe, mas uma cadeira não existe, já que não raciocina.
Teobaldo- Então, vou me exprimir melhor: existir é estar no tempo. O que acha dessa?
Inexistente- [risos] Mas quando o tempo acabar, no que irá cravar sua existência? O tempo é um conceito! Nessa sociedade, ninguém existe de verdade, somos um breve suspiro. Só vivemos se houver alguém que se lembre do que fomos. Nos tornamos, depois, apenas sonhos. E todos sabem que sonhos não existem.
A M.F. S/A foi procurada pela equipe, mas não quiseram gravar entrevista. No entanto, enviaram nota nessa manhã, transcrita a seguir:
''A M.F. S/A ainda está em luto pelo falecimento [posso suavizar, se quiser] de quatro dos nossos pesquisadores e em dor pelos traumas psicológicos sofridos pelo especialista número 5, durante a missão de expansão econômica e cultural de nossa empresa. A M.F. S/A se preocupa com todos os seus funcionários e deseja a todos um feliz ano novo.''
Se esta entrevista te provocar sintomas depressivos, entre em contato com a PsicoNutri e utilize cupom de desconto para a obtenção de 7,3% de desconto na aquisição de medicamento DepressãoPlus.
Deus está morto x_x'
Andava Deus tranquilamente entre um pensamento e outro quando tropeçou nas ideias de um reacionário brasileiro. "Quanta baboseira! Esse não sou eu! Como foi pensar isso de mim?" gritou inutilmente. Isso porque dentro daquela mente apertada não havia espaço para uma única onda sonora. No entanto, Ele descobriu uma luz no fim do túnel, um local para ser ouvido, um local onde muitas pessoas de cabeças reduzidas como aquela se encontram e param para ler sobre outras opiniões: a internet.
Após a descoberta, ao voltar para o seu reino, o todo poderoso não conseguiu acreditar no que tinha visto. Há um mar de gente conectada nesse mundo novo que Ele não conhecia, pessoas vivendo muito mais num ambiente que sequer faz parte da sua criação! A Sua curiosidade foi sendo alimentada por este novo mundo, afinal, Quais os segredos tal lugar guarda?
A decisão foi difícil, mas Ele resolveu conquistar essa nova terra sem reis ou regras. Para isso, foi preciso descer à lan house brasileira mais próxima, investir dois reais e cinquenta centavos, pedir ajuda para ligar o computador e criar uma página na rede social do momento. Ele olhou, estático, a tela iluminada.
O problema começou quando o que procurar se tornou mais difícil que a procura, as palavras-chave ainda eram um mistério para alguém que nunca precisou disso. Deus olhou em volta e pediu ajuda ao jovem entretido na máquina ao lado. O garoto disse que criaria conta no facebook "pro velho", mas apenas se recebesse likes num sorteio de uma página. Deus concordou, apesar de não fazer ideia do que isso seria.
Se me perguntares por onde anda Deus nos últimos anos, a resposta será ouvida com muita confusão: rebatendo cristãos nas redes sociais, sendo popular entre ateus e deprimido.
A Autocrítica
Não há como negar o começo incrivelmente batido dessa frase. A pobreza do discurso e a falta do conteúdo deste parágrafo inteiro é um completo desastre, e é preciso fé para que a leitura dos próximos prossiga de forma a não instigar o suicídio.
Ah, céus! Esse desenvolvimento de texto não diz nada que seja relevante social, psicológica, educativa ou moralmente. O problema, talvez, esteja no aspecto vitimista que a autora exprime em cada sentença, deixando assim o leitor arrependido de ter sido alfabetizado.
Não obstante, essa parte do escrita só serviu para que a autora se depreciasse ainda mais, antes mesmo de mostrar a que veio.
Por fim, a conclusão apenas relembra a fraqueza da introdução e persiste no que se revela um texto fracassado. Sendo assim, essa redação é a prova escrita da necessidade de um pensamento ecológico na hora de se fazer uma obra.
A. C. Vilela
sexta-feira, 29 de maio de 2015
Conto: A nostalgia
Estava me recuperando de uma queda drástica da fantasia para a realidade, meu coração de 15 anos estava estraçalhado. Tinha acabado de perceber que eu não conseguiria tudo que queria na vida: a tão sonhada popularidade e o namorado super-gato-que-todas-queriam. É, eu tinha levado um fora dos grandes, além da tiração de sarro que sofria dos colegas de turma. Por falta de um exemplo bom na época eu acabei pendendo pro álcool e festas pra me sentir bem de novo. Na época, as festas eram como doses de cura. Colocava meu vestido apertado, o batom vermelho, o rímel. A máscara exagerada do que eu queria ser: uma mulher que não liga pra nada, uma prostituta intocável, alguém que faria um capítulo de um livro. Com a bebida alcoólica eu me sentia assim... Invencível, a garota que era bonita e tinha a admiração dos garotos, a garota que era diferente. Me esforçava muito pra interpretar um papel, até hoje faço isso, não gosto de ser assim. Enfim, quando fecho os olhos parece que eu volto para aquela época... quando eu o conheci.
Uma viajem tinha sido marcada, uma semana longe dos pais, sete dias no paraíso e os hormônios adolescentes florescendo em mim. Acho que nunca mais vivi como naqueles dias, na verdade, não será possível viver nem uma cópia do que foi sentido. Só é possível recordar...
Dentro do ônibus as risadas, meus olhares direcionados a alguém que eu desejava de uma forma proibida, demos as mãos, olhamos um pro outro, a tensão no ar... Até que ouvi a voz dele. A risada rouca, as brincadeiras bobas. Ele se aproximou. Não sei bem como fomos parar nos divertindo tanto. Mal me lembro do que dissemos, na verdade.
A chegada no paraíso, as descobertas feitas lá, o mar, tudo era tão simétrico. O corpo dele na piscina desenhado pela água. Nada se via através de seus óculos escuros, nem dos meus. Mesmo assim, compreendíamos que olhávamos um ao outro.
A chegada passou, fomos para o mar, todos prestavam muita atenção nas lições que passavam. Eu só tentava descobrir se ele estava me olhando de volta... Por que nunca o perguntei isso? Por que estava amanhecendo e anoitecendo tanto naquela semana?
Estávamos na escuna. Diziam os significados de bombordo e estibordo, mas não ligávamos. Nossas peles estavam encostadas. Ombro com ombro. A felicidade estava me inundando.
Deitados um do lado do outro naquele paraíso, não sei como tomei coragem de tocar seu cabelo. Nunca tive certeza se ele esteve dormindo. Hoje vejo fotos, eu estava sorrindo como nunca mais irei sorrir.
Nosso primeiro beijo foi arranjado, lembro da sua sombra atrás da minha. Lembro do caminho de pedras brancas... da escada azul. Eu estava ardendo de dentro pra fora, acho que ele também. Tinha me esquecido como era amar sem álcool, como era sentir a sobriedade da vergonha. A pior coisa que aconteceu foram os passos dos outros voltando, a nossa boca saindo do laço, o olhar dele. Acho que fui a primeira a tomar os beijos dele.
Então estávamos de volta ao ônibus, e eu não sabia como dormir do lado dele. Toda hora me levantava com alguma desculpa, toda hora eu o observava de esguelha.
Chegamos a última parada da semana, ele não se aproximava, nós nos distanciamos. Procurei abrigo em outro abraço. Será que contaram pra ele?
O dia acabando e ele finalmente envolveu os braços nos meus ombros, nos beijamos ferozmente. Senti tanto a sua falta, parecia que iria sufocar. Eu o mordia, o amei tanto naquele momento. Implodi, enlouqueci, saí de mim, onde estive?
A semana acabou. O mês sumiu. Nos beijamos outras poucas vezes. Seu jeito me deixava possessa, ele não vinha a mim como eu queria. Voltei ao álcool, a outras bocas. Meu pensamento tava sempre lá do lado dele.
O afastei de mim.
Tentei o buscar pra mim, não deu. Os anos passaram, amo outro, ele foi virando lembrança. Ele também passou da vida. Seu velório estava cheio de tristeza. Levou uma parte do nosso segredo consigo. Parece que passou um pedaço meu junto.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Indicação de série: My Mad Fat Diaries
Para entrar no clima da série adolescente mais espetacular que já assisti, uma música da trilha sonora que fala muito sobre a personagem principal:
My Mad Fat Diaries é baseada no livro autobiográfico de mesmo nome da autora Rae Earl (muito ansiosa pra comprá-lo!). A série britânica passou a ser exibida em 2013 pelo canal E4, mas só passei a assisti-lá por estar com tempo de sobra pra enfrentar meu preconceito com conteúdo adolescente, conceito que foi desconstruído já no primeiro episódio da série por a)Ser inovadora e b)Ter uma trilha sonora fantásssstica.
A história original, do livro, se passa na década de 80, mas a série é ambientada na década de 90. E, preciso destacar isso: a impressão que o telespectador tem é de que voltou no tempo. Dá até pra sentir o clima úmido britânico do final do século 20.
Além disso, a personagem principal é gorda e está aprendendo a lidar com toda a pressão que é viver numa sociedade que adora a magreza e a conformidade. É perceptível que a Rae, representada pela atriz Sharon Rooney sofre, mas não vive só de tristeza não, pelo contrário, ela é uma adolescente, ou seja, vive numa montanha russa emocional, às vezes no fundo do poço, às vezes no topo do universo. Ela é incrível, é profunda, engraçada, tem bom gosto e vê o mundo com uma perspectiva tão humana, sente medo, insatisfação, inveja, alegria, amor, raiva e age por impulso (pra caramba).
Ademais, os personagens secundários são tão bem construídos quanto a Rae. A série tem o efeito surpresa. Por exemplo, alguém que você imagina que seja um figurante, de repente, se torna uma pessoa muito importante, e alguém que é muito importante pode não ser nada. Todos reagem com muita naturalidade, nenhum deles, até agora, enfrentou algo de uma forma idealizada, alias, as séries inglesas que mais gosto tem muito disso.
Sério, corre lá pra assistir. Agora.
MMFD tem duas temporadas, e a terceira já está sendo produzida mas, infelizmente, não há previsão de estreia :'(.
My Mad Fat Diaries é baseada no livro autobiográfico de mesmo nome da autora Rae Earl (muito ansiosa pra comprá-lo!). A série britânica passou a ser exibida em 2013 pelo canal E4, mas só passei a assisti-lá por estar com tempo de sobra pra enfrentar meu preconceito com conteúdo adolescente, conceito que foi desconstruído já no primeiro episódio da série por a)Ser inovadora e b)Ter uma trilha sonora fantásssstica.
A história original, do livro, se passa na década de 80, mas a série é ambientada na década de 90. E, preciso destacar isso: a impressão que o telespectador tem é de que voltou no tempo. Dá até pra sentir o clima úmido britânico do final do século 20.
Além disso, a personagem principal é gorda e está aprendendo a lidar com toda a pressão que é viver numa sociedade que adora a magreza e a conformidade. É perceptível que a Rae, representada pela atriz Sharon Rooney sofre, mas não vive só de tristeza não, pelo contrário, ela é uma adolescente, ou seja, vive numa montanha russa emocional, às vezes no fundo do poço, às vezes no topo do universo. Ela é incrível, é profunda, engraçada, tem bom gosto e vê o mundo com uma perspectiva tão humana, sente medo, insatisfação, inveja, alegria, amor, raiva e age por impulso (pra caramba).
Archie, Chloe, Izzy, Chop, Finn (<3)
Ademais, os personagens secundários são tão bem construídos quanto a Rae. A série tem o efeito surpresa. Por exemplo, alguém que você imagina que seja um figurante, de repente, se torna uma pessoa muito importante, e alguém que é muito importante pode não ser nada. Todos reagem com muita naturalidade, nenhum deles, até agora, enfrentou algo de uma forma idealizada, alias, as séries inglesas que mais gosto tem muito disso.
Sério, corre lá pra assistir. Agora.
MMFD tem duas temporadas, e a terceira já está sendo produzida mas, infelizmente, não há previsão de estreia :'(.
E ela resolveu escrever um conto
Clarissa estava distraída naquele dia, talvez fosse o cansaço de um longo e produtivo dia de trabalho. ''Fiz a máquina capitalista rodar'', pensava enquanto via vitrines a caminho do restaurante com seus colegas de trabalho. Chegaram, sentou-se na mesa junto com os outros, observou o menu ''Tudo aqui é muito caro, deveria ter guardado mais dinheiro dinheiro''.
- Olá, o que desejam?- perguntou o garçom.
- Uma xícara de café, obrigada.
Em segundos o primeiro gole de seu café foi engolido.
- Sabe o que odeio? Indígenas. São um bando de estupradores alcoólatras, miseráveis e sem caráter, de vida fácil, sustentados pelo governo. Eu os atropelaria com meu carro!
''Quem disse isso?''. Risadas. Observou os rostos a sua volta voltados a um ponto em comum, Benício. Cada um dos espectadores carregava um olhar diferente. Uns riam, outros concordavam, e Clarissa.
- Benício, o ódio e o amor tem muito em comum, sabe por quê? É por que, se sentidos qualquer um deles em demasia a racionalidade é substituída, logo deixamos de ver as coisas com clareza e lógica o que, no seu caso, atinge a sua percepção sobre a humanidade dos indígenas. Ademais, quando você diz algo assim, é subentendido que não há parentesco indígena dos que estão presentes? Talvez você não esteja familiarizado com a história, mas dentro das veias de qualquer brasileiro, e isso o inclui, corre o sangue indígena, que por estupro ou por amor fizeram possível essa nossa conversa. Em ambos os casos, a razão de não nos encontrar-mos muito com nossos parentes é talvez por que estejam mortos. E não mortos de velhice ou alcoolismo, mas assassinados, ou melhor, disseminados por pessoas não-indígenas. Olha, colega, a única coisa da sua afirmação que posso concordar é que eles são miseráveis já que os tomaram tudo, tanto a cultura quanto seus meios de sobrevivência. Ademais, a vida deles é cheia de obstáculos, como por exemplo, seus primeiros desafios estão entre: nascer e chegar aos 10 anos de idade, já que uma grande parte morre por inanição nesse país. Toma vergonha, Benício! - pensou.
Quando Clarissa tomou a coragem de pôr pra fora a indignação que sentia, o assunto já havia sido trocado. Agora falavam sobre motores de carros.
- Garçom, mais uma rodada!- disse Benício.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
O vitimismo dos outros
Na procura da felicidade os seres humanos tendem a se contentar com o conforto, tanto de suas ideias como de suas rotinas, e todo mundo tem um pouco disso. Entretanto, algumas pessoas se apegam tanto as suas convicções que não aceitam que hajam possibilidades diferentes, ou melhor, podem até enxergar isso, mas entram em estado de negação.
Uma pessoa com muitas certezas pode até ser confrontada com argumentos, dados e fatos, mas vai dar um jeito de adaptá-los a sua perspectiva de vida. Esse tipo de pessoa pode ser vista no dia a dia, essa pessoa pode ser você.
O que mais retrata o exposto acima é o argumento usado por pessoas que tentam negar as injustiças sociais, ou melhor, os privilegiados (branco, heterossexuais, cis, classe média) de que os desprivilegiados (negros, indígenas, gays etc) se vitimizam ao mostrarem a dura realidade em que vivem.
Os privilegiados não conseguem enxergar o que os outros sofrem porque a)é mais fácil assim e b)pois podem tirar benefícios da discriminação, como por exemplo o lucro ou inflar seus egos. Na primeira alternativa, o que vale é o conforto como forma de felicidade, ou melhor, de se ater a ideia de que todos podem conquistar o que quiserem, de acreditarem no karma social, já na segunda a falsa crença de que são melhores que os ''vitimistas''.
Os favorecidos sociais não brotaram do nada, assim como as desigualdades, há cunho histórico, e por serem tentados a ficar na inércia, eles não se interessam em enfrentar algo que afronte suas crenças, principalmente se os fatos que as confrontem sejam complexos.
Sendo assim, ser uma pessoa favorecida é também fazer parte de um ideologia, e ser contra a maré de opiniões é um ato de coragem que afasta o ''agente do contra'' da maioria da sociedade, ou melhor, é desconfortável não fazer parte de algo e é necessário abrir a mente para sair da bolha ideológica que todos foram criados pra viver.
terça-feira, 5 de maio de 2015
O mundo não é justo, e isso pode ser algo bom!
Nos ensinaram desde muito cedo que tudo o que fazemos de bom retornará a nós.
A crença no karma vem de religiões como o hinduísmo e o budismo, e está presente até nos ditados populares, como por exemplo: tudo o que vai volta, ou até: quem planta, colhe. O karma são as consequências das atitudes individuais, ou seja, se você fizer algo ruim, logo, a vida te dará algo ruim em troca. De acordo com essa crença, se aconteceu algo de muito errado, olhe para as suas atitudes, e procure nelas a razão da sua punição.
Ademais, não sou uma daquelas pessoas que acreditam numa orquestra mística das atitudes humanas, quando uso a expressão karma, a sua interpretação não é divina. Quando você faz coisas que prejudicam os outros, talvez, se for descoberto, os outros irão tentar te prejudicar de volta, e não há nada de sobrenatural nessa situação. Entretanto, muitas pessoas levam o tal do ''tudo que vai, volta'' muito a sério, e chegam a acreditar que a vida é justa, que os maus são punidos e os bons premiados. E isso é uma grandessíssima balela. Por conseguinte, essa crença que, admito, pode ser vista de uma forma racional e positiva, mas pode também afetar negativamente quem a vê de forma mística.
Nesse ínterim, a psicologa Dorothy Dowe acredita que se culpar por algo que seja alheio a sua vontade pode te levar a depressão, que te impede de racionalizar o que está acontecendo na sua vida e te leva apenas a reagir. Sendo assim, reagir, se sentir culpado(a) pelo que você está sofrendo, atribuir os acontecimentos ruins da sua vida a algo que não pode ser controlado e se punir por isso, poderá te levar a loucura.
Ás vezes, coisas ruins acontecem por você tê-las provocado ou porque ''shit happens'', e há duas formas de reagir a isso a)o seu sofrimento pode ser pensado, racionalizado e superado ou b) você acreditará que merece tudo o que há de ruim e se deprimirá.
Por fim, coisas ruins sempre acontecerão mesmo que você viva de forma ilibada, o desafio começa com a forma como você escolhe lidar com os conflitos e, talvez com isso, você perceba que o que parecia assustador e não solucionável é, na verdade, um degrau para algo melhor. A vida não é justa, e isso nem sempre é ruim.
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Abandoney mas voltey!
Faz algum tempo que esqueci de publicar no blog e existem razões por trás disso: a)Ninguém Liga; b)Ando muito ocupada e c) Ninguém Liga. De qualquer modo, estou de volta- mesmo sem ninguém ligar- por motivo de: ando cheia de ideias na cabeça e quero colocá-las em algum canto.
Prosseguindo, para recomeçar meus posts separei umas músicas de uma das bandas mais sensacionais do planeta terra e da galáxia, a Oasis, essa banda maravilhosa que ressuscitou o rock britânico da década de 90 e perdurou até 2009 mesmo com as brigas constantes dos irmãos Gallagher.
Obs.: Tentei fazer um ''Top 3'' mas é impossível, então usei o sistema A-B-C sem música-melhor/música-pior, mas as letras que mais fazem sentido pra minha vida e o motivo de tê-las escolhido.
A) Música: She's Electric
Motivo da Escolha: Essa letra lembra muito a minha família <3
B) Música: Supersonic
Motivo da Escolha: É o hino dos meus 17 anos fase nebulosa
C) Música: Live Forever
Motivo da Escolha: É uma música sobre uma pessoa percebendo a monotonia da vida, e todas essas filosofias baratas que eu adoro.
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